209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

257
5/20/2018 209666534EzequielIntroducaoeComentarioPDF-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/209666534-ezequiel-introducao-e-comentario-pdf 1/25 Ezequiel introdução  e comentário B. Taylor SÉRIE CULTURA BÍBLICA 

Transcript of 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    1/25

    Ezequielintroduoe comentrio

    B. Taylor

    SRIE CULTURA BBLICA

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    2/25

    DIGITALIZAO:EMANUENCE DIGITAL

    EDIO:ADRIANO LOPES

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    3/25

    EZEQUIEL

    John B. Taylor

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    4/25

    EZEQUIELIntroduo e Comentrio

    porJohn B. Taylor, M.A.

    Arquidicono de West Ham, Essex

    SOQIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVAeASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTORua Antonio Carlos Tacconi, 75 e 79 Cid. Dutra 04810 So Paulo-SP

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    5/25

    Ttulo do Original em ingls:Ezekiel, An Introduction and Commentary

    Copyright 1969, por John B. TaylorPublicado pela primeira vez pela Inter-Varsity Press, Inglaterra

    Traduo: Gordon ChownReviso: Jlio Paulo T. Zabatiero

    Primeira Edio: 1984 5.000 exemplares

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos re

    servados pelaSOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVAeASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTORua Antonio Carlos Tacconi, 75 e 79 Cid. Dutra 04810 So Paulo-SP

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    6/25

    PREFCIO GERAL

    O alvo desta srie de comentrios equipar o estudante da Bbliacom um comentrio conveniente e atualizado sobre cada Livro, ressaltan-do-se em primeiro lugar a exegese. As questes criticas de maior importncia se discutem nas introdues e notas adicionais, mas detalhes tcnicos

    desnecessrios foram evitados.Nesta srie, os autores individuais so, naturalmente, livres para fazer suas prprias contribuies distintivas, e para expressar seu prprioponto de vista sobre todas as questes controvertidas. Dentro dos limitesnecessrios do espao, freqentemente chamam a ateno a interpretaesque eles pessoalmente nffo sustentam, mas que representam as conclusesdeclaradas de colegas crentes sinceros. Ao fazer tudo isto, o autor destecomentrio demonstrou que possvel fazer um livro da Bblia em mui

    tos casos pouco lido e estudado, com exceo dalgumas poucas passagensbem-conhecidas destacar-se de modo novo no seu contexto histricoe proftico, sem deixar de ter significado, relevncia e aplicao para oleitor srio em nossos dias.

    No Antigo Testamento, especialmente, nenhuma traduo suficiente, por si mesma, para refletir o texto original. Os autores destes comentrios, portanto, citam livremente vrias verses, ou oferecem suaprpria traduo, na tentativa de tomar significantes em nossos dias as

    passagens ou palavras mais difceis. Quando h necessidade, palavras doTexto Massortico hebraico (e aramaico) que subjazem estes estudosso transliteradas. Desta maneira, o leitor que talvez no tenha familiaridade com as lnguas semticas, ser ajudado a identificar a palavra sobdiscusso, podendo, assim, acompanhar o argumento. A cada passo nestes comentrios, pressupe-se que o leitor tenha mo uma boa versoda Bblia em portugus, ou at mais.

    H sinais de um interesse renovado no significado e na mensagem

    do Antigo Testamento, e espera-se que esta srie venha a promover o estudo sistemtico da revelao de Deus, da Sua vontade e dos Seus caminhos conforme se vem nestes registros. a orao do editor e da editora, como tambm dos autores, que estes volumes ajudem muitas pessoasa compreenderem a Palavra de Deus e a corresponderem a ela hoje.

    D. J. Wiseman

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    7/25

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    8/257

    MDICE

    PREFCIO GERAL .............................................................................. 5

    PREFCIO DA EDIO EM PORTUGUS....................................... 8

    PREFCIO DO AU TOR....................................................................... 9

    ABREVIATURAS PRINCIPAIS........................................................... 10

    INTRODUO................................ ..................................................... ..13O Livro de Ezequiel ; .................................................................. ..13Ezequiel, o Homem....................................................................... ..20Fundo Histrico..............................................................................28A Mensagem de Ezequie l............................................................. ..38

    O T e x to ........................................................................................ 44

    ANLISE................................................................................................47

    COMENTRIO........................................................................................ 50

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    9/25

    PREFCIO DA EDIO EM PORTUGUSTodo estudioso da Bblia sente a falta de bons e profundos coment

    rios em portugus. A quase totalidade das obras que existem entre ns peca pela superficialidade, tentando tratar o texto bblico em poucas linhas.A Srie Cultura Bblica vem remediar esta lamentvel situao sem quepeque, de outro lado, por usar de linguagem tcnica e de demasiada ateno a detalhes.

    Os Comentrios que fazem parte desta coleo Cultura Bblica soao mesmo tempo compreensveis e singelos. De leitura agradvel, seu contedo de fcil assimilao. As referncias a outros comentaristas e ashotas de rodap sb reduzidas ao mnimo. Mas nem por isso so superficiais. Renem o melhor da percia evanglica (ortodoxa) atual. O texto denso de observaes esclarecedoras.

    Trata-se de obra cuja caracterstica principal a de ser mais exegtica que homiltica. Mesmo assim, as observaes no s de teor acadmico. E muito menos so debates infindveis sobre mincias do texto.Saro de grande utilidade na compreenso exata do texto e proporcionamassim o preparo do caminho para a pregao. Cada Comentrio consta deduas partes: uma introduo que situa o livro bblico no espao e no tem

    po e um estudo profundo do texto a partir dos grandes temas do prpriolivro. A primeira trata as questes crticas quanto ao livro e ao texto. Examina-se as questes de destinatrios, data e lugar de composio, autoria,

    bem como ocasio e propsito. A segunda analisa o texto do livro seopor seo. Ateno especial dada s palavras-chave e a partir delas procura compreender e interpretar o prprio texto. H bastante carne para mastigar nestes comentrios.

    Esta srie sobre o V.T. dever constar de 24 livros de perto de 200pginas cada. Os editores, Edies Vida Nova e Mundo Cristo, tmprogramado a publicao de, pelo menos, dois livros por ano. Com preos moderados para cada exemplar, o leitor, ao completar a coleo,

    ter um excelente e profundo comentrio sobre todo o V.T. Pretendemos, assim, ajudar os leitores de lngua portuguesa a compreender o que otexto vtero-testamentrio de fato diz e o que significa. Se conseguirmosalcanar este propsito seremos gratos a Deus e ficaremos contentes

    porque este trabalho nfo ter sido em v.

    Richard J. Sturz

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    10/2

    PREFCIO DO AUTOR

    Os comentrios podem ser divididos em duas classes. Alguns tm ainteno de ajudar os leitores da Bblia a compreender melhor as partesque lem. Os outros tm a inteno de ajudar as mesmas pessoas a atacaras partes que, doutra forma, negligenciariam. O presente comentrio tema inteno de se classificar nesta segunda categoria. Para aqueles que luta

    ram confiantemente com os problemas das vises de Ezequiel, e que podem passar horas felizes deslindando o cumprimento das suas profecias,estas pginas tm pouco para oferecer. Mas aqueles que nffo fizeram maisdo que folhear tentativamente seus quarenta e oito captulos serffo encorajados, espero eu, a aventurar-se mais. Visando o benefcio deles, procurei evitar tecnicalidades indevidas e, mesmo quando achei necessrio referir-me ao hebraico original, procurei tomar meus comentrios claros ede fcil leitura, de modo que o prprio leigo total nunca se sentir per

    plexo. Meu sucesso ser julgado, portanto, no pelo nmero de pessoasque lem este livro, mas, sim, pelo nmero delas que leiam tambm Ezequiel.

    Estou muito grato ao Professor D. J. Wiseman pelo seu encorajamento pessoal bem como por vrias sugestes e melhorias que fez; aoRev. Arthur Cundall por ter feito um exame cuidadoso do manuscritoe indicado inexatides que eu talvez nunca tivesse percebido; e ao Sr.Alan Millard pela sua ajuda no preparo da tabela cronolgica na Introduo. Devo, tambm, meus agradecimentos Sra. Valerie Everitt e Sra. Joy Hills por sua ajuda inestimvel em datilografar o manuscrito.Acima de tudo, gostaria de expressar minha gratido minha esposa eaos meus filhos, que, com boa vontade, fizeram sacrifcios a fim de queeste livro pudesse ser escrito, e que me encorajaram mais do que possodizer.

    Domingo de Pscoa, 1969

    John B. Taylor

    9

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    11/2

    ABREVIATURAS PRINCIPAIS

    Ac.ANEPANET

    ARAARC

    A R I

    AVBABASORBertholet

    BJRLBZAW

    Cooke

    Comill

    Davidson

    de Vaux

    DOTT

    EB

    Eissfeldt

    EllisonETE W

    AcadianoThe Ancient Near East in Picturesde J. B. Pritchard, 1954.

    Ancient Near Eastern Texts relating to the Old Testament2de J. B. Pritchard, 1955.Almeida Revista e AtualizadaAlmeida Revista e Corrigida

    Archaelogy and the Religion o f Israel3 de W. F. Albright,1953.Verso Inglesa Autorizada da Bblia (Rei Tiago)

    Biblical ArchaelogistBulletin o f the American Schools o f Oriental ResearchHesekiel2 de A. Bertholet (Handbuch zum Alten Testa-

    ment),1936Bulletin o f the John Rylands LibraryBeihefte zur Zeitschrift f r die alttestamentliche Wissens-chaft

    A Critical and Exegetical Commentary on the Book o fEzekiel de G. A. Cooke (International Critical Commen-tary),1936.

    Das Buch des Propheten Ezechielde C. Comill, 1886

    The Book o f the Prophet Ezekielde A. B. Davidson (Cam-bridge Bible for Schools and Colleges), 1892.Ancient Israel: Its Life and Institutionsde Roland de Vaux,Tr. ing. 1961.

    Documents from Old Testament Timeseditado por D. Win-ton Thomas, 1958.

    Encyclopaedia Biblica editada por T. K. Cheyne e J. S.Black, 1899-1903.

    The Old Testament, an Introduction de Otto Eissfeldt,Trad. ing. 1965.Ezekiel, The Man and his Message, de H. L. Ellison, 1956.Expository Times.Verses em Ingls (empregado quando AV, RV e RSV con-

    10

    1

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    12/2

    cordam entre si)Fohrer Ezechiel, de G. Fohrer (Handbuch zum alten Testament),

    1955

    GK Hebrew Grammar1 de W. Genesius, E. Kautsch e A. E.Cowley, 1910.

    HDB Hastings Dictionary o f the BibleHengstenberg Commentary on Ezekiel,de E. W. Hengstenberg, Trad. ing.

    1869.Hemtrich Ezechielprobleme,de V. Hemtrich, 1932.Hitzig Der Prophet Ezechiel,de F. Hitzig, 1847Howie Ezekiel, Daniel, de C. G. Howie {LaymansBible Commen-

    taries), 1961.HUCA Hebrew Union College Annual.IB The Interpreters Bible, Vol. 6. The Book o f Ezekiel In

    troduo e Exegese de H. G. May; Exposio de E. L. Allen,1956.

    IDB The Interpreters Dicionary o f the Bible, em quatro volumes, 1962.

    BJ Biblia de Jerusalm, 1980.JBL Journal o fBiblical Literature.JSS Journal o f Semitic Studies.JTS Journal o f Theological Studies.Keil Biblical Commentary on the Prophecies o f Ezekiel, de C.

    F. Keil, Trad. ing. sem data (2 vols.).Kliefoth Das Buch Ezechiels,de Th. Kliefoth, 1864-5.Klostermann Studien und Kritiken,de A. Klostermann, 1877.

    Knox The Holy Bible2traduzida por Ronald Knox, 1956.Koehler Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de L. Koehler e W.Baumgartner, 1953.

    Kraetzschmar Das Buch Ezechiel, de R. Kraetzschmar (Handkommentarzum Alten Testament),1900.

    Lat. A Verso Latina Antiga.LXX A septuaginta (verso grega pr-crist do Antigo Testamen

    to).

    May VerIB.mg. margem.Moffatt A New Translation o f the Bible,de James Moffatt, 1935.MS manuscrito.

    NDB O Novo Dicionrio da Bblia, editado por J. D. Douglas,

    11

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    13/2

    1962. Edies Vida Nova.OTMS The Old Testament and Modem Study, editado por H. H.

    Rowley, 1951.PEFQ Palestine Exploration Fund Quarterly Statement.Peake Peakes Commentary on the Bible, editado por Matthew

    Black e H. H. Rowley, 1962. Seo sobre Ezequiel de J.Muilenburg.

    RSV American Revised Standard Version, 1952.RV English Revised Version, 1885.Skinner The Book of Ezekiel, de John Skinner (The Expositors

    Bible),1895 (2 vols.).Stalker Ezekiel, de D. M. G. Stalker (Torch Bible Commentaries),1968.

    Sir. Verso Siriaca.TB Talmude da Babilnia.TM Texto Massortico.Toy Ezekiel, de C. H. Toy (Polychrome Bible),1899.VT Vetus Testamentum.

    ZA W Zeitschrift fr die alttestamentliche Wissenchaft.Zimmerli Ezechiel, de W. Zimmerli (Biblischer Kommentar: AltesTestament),a partir de 1955.

    12

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    14/2

    INTRODUO

    I. O LIVRO DE EZEQUIEL

    Para a maior parte dos leitores da Bblia, Ezequiel quase um livroselado. O conhecimento que tm dele vai pouco alm da sua viso misteriosa do carro-trono de Deus, com suas rodas dentro de rodas, e a viso

    do vale de ossos secos. Fora disto, o livro dele to proibitivo no seu tamanho quanto o prprio profeta na complexidade da sua personalidade.

    Na sua estrutura, porm, seno no seu pensamento e na sua linguagem, o livro de Ezequiel tem uma simplicidade bsica, e seu arcabouobem-organizado faz com que seja de fcil anlise. Depois da viso inicial,em que Ezequiel v a majestade de Deus nas plancies da Babilnia, e recebe sua chamada para ser profeta casa de Israel (1-3), segue-se uma longasrie de mensagens, algumas das quais simbolicamente encenadas, mas amaioria em forma oral, prevendo e justificando a inteno de Deus de castigar a cidade santa de Jerusalm e seus habitantes com destruio e morte(4-24). Depois, altura da metade do livro, quando a queda de Jerusalm representada como tendo ocorrido (embora a notcia ainda no tivessechegado at os exilados), a ateno do leitor desviada para as naes emderredor de Israel, e o julgamento divino contra elas pronunciado numasrie de orculos (25-32). Nesta altura, o leitor j est preparado para asurpresa estarrecedora da notcia da destruio de Jerusalm, e 32:21registra a declarao do fugitivo: Caiu a cidade! J, porm, est raiandouma nova era, e uma nova mensagem est nos lbios de Ezequiel. Com umacomisso renovada e uma promessa de que Deus est para restaurar Seu

    povo sua prpria terra, sob uma liderana piedosa mediante um tipo deressurreio nacional (33-37), Ezequiel passa ento a descrever, em termos

    13

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    15/2

    INTRODUO

    apocalpticos, o triunfo final do povo de Deus sobre as hordas invasorasprovenientes do norte (38, 39). O livro termina, conforme comeou, com

    uma viso intrincada, no, desta vez, do carro-trono do Senhor avanandopor sobre os ermos vazios da Babilnia, mas, sim, da nova Jerusalm como trio e santurio interior do seu templo, onde Deus habitaria entre Seu

    povo para sempre (4048).No surpreendente, portanto, que a maioria dos comentaristas

    mais antigos considerasse Ezequiel livre da fragmentao literria imposta, pelos crticos, s profecias de Isaas, Jeremias e a alguns dos doze profetas menores. A introduo de A. B. Davidson ao seu comentrio sobre

    Ezequiel (1892) comeou com um veredito freqentemente citado: Olivro de Ezequiel mais simples e mais perspcuo na sua disposio do quequalquer outro dos grandes livros profticos. Foi, provavelmente, registrado por escrito na parte posterior da vida do profeta, e, diferentementedas profecias de Isaas, que foram pronunciadas esparsamente,foi publica-do na sua forma completa de uma s vez.

    Vinte anos mais tarde, G. B. Gray ainda pde tirar a concluso deque nenhum outro livro do Antigo Testamento distinguido por mar

    cas tio decisivas de unidade de autoria e integridade quanto este.2 Jna poca em que McFadyen escreveu sua Introduction to the Old Testament (edio de 1932), porm, teve de empregar linguagem mais cautelosa: Temos em Ezequiel a rara satisfao de estudar uma profeciacuidadosamente elaborada cuja autenticidade tem sido, at recentemente,praticamente indisputada. 3 A frase at recentemente refere-se obrade estudiosos tais como Kraetzschmar, Hlscher, C. C. Torrey e JamesSmith. Antes, porm, de considerarmos os pontos de vista destes, faamos um resumo breve dos argumentos sobre os quais tem sido baseadoo conceito tradicional da unidade de Ezequiel.

    H seis razes principais para atribuir o livro a um nico autor,o profeta Ezequiel.

    1. O livro tem uma estrutura equilibrada, conforme j observamos,e este arranjo lgico estende-se do captulo 1 at o captulo 48. No hinterrupes na continuidade da profeci, a no ser onde (como no casodos orculos contra as naes, 25-32), isto feito para produzir um efeitodeliberado. A nica parte que poderia ser facilmente separada do restante,

    1. Davidson, pg. ix (grifos meus).2. G. B. Gray.^4 Criticai Introduction to the Old Testament,(1913), pg. 198.3. McFadyen, pg. 187.

    14

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    16/2

    EZEQUIEL

    a viso do novo templo (4048), parece formar um equilbrio ntido coma viso de abertura dos captulos 1-3, e melhor consider-la uma concluso apropriada para a totalidade, embora seja manifestamente de dataalgo posterior (cf. 40:1).

    2. A mensagem do livro tem uma consistncia interna que se encaixa com o equilbrio estrutural. O ponto central a queda de Jerusalme a destruio do Templo. Esta anunciada em 24:21ss. e relatada em33:21. Desde o captulo 1 at 24, a mensagem de Ezequiel de destruio e denncia: um atalaia colocado para advertir o povo de que esta a conseqncia inevitvel dos pecados da nao. Mas desde o captulo

    33 at 48, embora ainda se considere um atalaia com uma mensagem de retribuio e responsabilidade individuais, seu tom de encorajamento e derestaurao. Antes de 587 a.C., seu tema era que a deportao de 597 a.C.,da qual ele mesmo foi uma das vtimas, certamente no era o fim do castigode Deus aplicado ao Seu povo: coisa pior estava para vir, e os exiladosdeviam estar prontos para enfrent-la. Depois de vir esta coisa, e o piorter acontecido, Deus agiria para reedificar e restaurar Seu povo Israel,uma vez disciplinado.

    3. O livro revela notvel unidade de estilo e de linguagem. Isto sedeve, em grande medida, fraseologia repeticiosa usada no decorrer do livro. May4 d uma lista de nada menos que 47 frases tipicamente ezequie-lianas, que aparecem periodicamente nas suas pginas, e muitas destasso peculiares a este profeta. Isto, naturalmente, nada comprova acercada autoria propriamente dita, porque um redator poderia facilmente tercolhido frases tpicas de Ezequiel, encaixando-as na matria adicionalque incorporava, mas forte evidncia em prol da unidade e da coerncia

    do livro na sua etapa final, e sugere que o redator da obra acabada, se nofoi o prprio Ezequiel, identificava-se estreitamente com o ponto de vista e as crenas de Ezequiel.

    4. O livro tem uma clara seqncia cronolgica, com datas aparecendo em 1:1, 2; 8:1; 20:1; 24: 1; 26:1; 29:1; 30:20; 31:1; 32:1,17; 33:21; 40: 1. Nenhum outro profeta maior tem esta progresso lgica de datas, e somente Ageu e Zacarias, entre os profetas menores, oferecem um padro comparvel.5

    5. Diferentemente de Isaas, Jeremias, Osias, Ams e Zacarias, to

    4. IB ,pgs. 50-51.5. A cronologia de Ezequiel estudada mais detalhadamente na seo III da

    Introduo, abaixo, pg. 36.

    15

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    17/2

    INTRODUO

    dos os quais combinam matria na primeira e na terceira pessoa do singular, aspecto este que usualmente considerado um sinal seguro de compi

    lao editorial, Ezequiel escrito de forma auto-biogrfica do comeo aofim. A nica exceo a introduo dupla (1:2, 3), que d uma impresso muito forte de ser a explicao, feita por um redator, do versculode abertura que certamente precisava dalgum tipo de interpretao paraseus leitores (ver o Comentrio, pg. 51). Mas esta a nica ocorrnciadeste tipo.

    6. O retrato do carter e da personalidade de Ezequiel parece consistente por todo o livro; h a mesma sinceridade, a mesma excentricida

    de, o mesmo apego sacerdotal ao simbolismo, a mesma preocupao fastidiosa com detalhes, o mesmo senso da majestade e da transcendnciade Deus.

    A despeito destas evidncias, nunca faltou um pequeno nmero decrticos cticos acerca da unidade de Ezequiel. A declarao de Josefo,6de que Ezequiel nos deixou dois livros, no deve ser forada a carregaruma parcela grande demais da culpa disto. H um sculo, Ewald distinguiu dois elementos em Ezequiel, sendo que o primeiro representava or

    culos profticos falados, e o ltimo era a produo literria de um profeta escritor. No achava, no entanto, que esta diviso exigisse que a unidade do livro fosse abandonada. Alguns anos mais tarde, Kraetzschmar argumentou fortemente contra a unidade literria pelo motivo de ter conseguido detectar numerosas inconsistncias no texto, repeties e verses

    paralelas, que o levaram a postular duas recenses do livro, uma na primeira pessoa e uma na terceira pessoa. A fraqueza da concluso de Rrae-tzschmar era que as nicas passagens na terceira pessoa eram 1: 3 e 24:24

    (onde Jav diz: Assim vos servir Ezequiel de sinal), e no surpreendente que recebeu pouco apoio para sua teoria. Estudiosos tais como Her-rmann,7 que viram a validade das evidncias de Kraetzschmar mas que re

    jeitaram sua concluso, preferiram a estimativa mais conservadora de Ezequiel como sendo uma unidade compilada pela prpria mo do profeta,mas com acrscimos editoriais posteriores.

    No mesmo ano em que Herrmann produziu seu comentrio sobre

    6. Antigidades, x.5.1: . . Ezequiel tambm, que foi a primeira pessoa queescreveu, e deixou por escrito dois livros, a respeito destes eventos (traduo de W.Whiston).

    7. Ezechielstudien (Beitrge zur Wissenschaft vom Alten Testament, 1908) eEzechiel (Kommentar zum A lten Testament,1924), ambos de J. Herrmann.

    16

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    18/25

    EZEQUIEL

    Ezequiel, no entanto, Gustav Hlscher publicou um estudo8 que inverteuseus prprios pontos de vista conservadores de dez anos antes,9 e sujeitou

    o livro de Ezequiel quilo que Rowley descreveu como sendo o desmembramento mais dramtico que j sofreu. 10 Tomou como ponto de partida a crena de que Ezequiel era um poeta e, portanto, improvvel que eletivesse escrito muitas das passagens de prosa no livro. Alm disto, cortouas passagens poticas que no seguiam a mtrica que ele considerava caracterstica de Ezequiel. Saram, tambm, as passagens em que havia simbolismo misturado com fatos concretos, porque argumentava que um verdadeiro poeta no faria tal coisa. Ainda mais arbitrrio foi seu ponto de

    vista de que a doutrina da responsabilidade individual devia ser ps-ex-lica, de modo que estas passagens, tambm, tiveram de ser relegadas aredatores. O resultado desta anlise drstica foi que Ezequiel, o profeta,ficou com apenas 170 versculos de um total de 1.273 contidos no livroque recebeu seu nome. Embora as concluses de Hlscher fossem revolucionrias, sua metodologia no era original (Duhm tratara o livro de Jeremias de modo bem semelhante em 190311) e no demorou muito paraum estudioso norte-americano, W. A. Irvin, chegar a concluses semelhan

    tes atravs de um raciocnio diferente.12 Irwin comeou com um estudodetalhado de Ezequiel 15, e deduziu disto que havia uma discrepncia entre o orculo propriamente dito e sua interpretao, que no passava depuro mal-entendimento. A interpretao, portanto, no poderia ser a obrade Ezequiel. Aplicando este princpio ao restante do livro, deixou Ezequiel com cerca de 250 versculos genunos, ou seja: apenas uma quinta

    parte do livro.Por mais radicais que estas avaliaes possam ser, parecem conser

    vadoras em comparao com o -ponto de vista de C. C. Torrey,13 queexcluiu totalmente o profeta Ezequiel. Para ele, Ezequiaj. era um personagem fictcio, inventado originalmente c. de 230 a.C., por um autor

    8. G. Hlscher,Hesekiel, der Dichter und das Buch (1924).9. G. Hlscher,Die Profeten(1914), pgs. 298ss.

    10. O ensaio de H. H. Rowley, The Book of Ezekiel in Modem Study,BJRL ,XXXVI, 1953-54, pgs. 146-150 (agora mais fcil de adquirir no seu livro: Men o f

    God: Studies in Old Testament History and Prophecy,1963), do qual esta citao tirada, um panorama admirvel da literatura extensiva sobre Ezequiel que podeapenas ser ligeiramente mencionada nesta Introduo.

    11. B. Duhm,Das Buch Jeremia bersetzt(1903).12. W. A. Irwin, The Problem o f Ezekiel(1943).13. C. C. Torrey,PseudoEzekiel and the Original Prophecy(1930).

    17

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    19/2

    INTRODUO

    que estava tentando escrever um pseudepgrafo alegadamente escrito porum dos profetas que pregava em Jerusalm durante o reinado de Manas-

    ss (c. de 696-642 a.C.; cf. 2 Rs 21:1-17). Seu raciocnio era que 1-24tratavam primariamente de Jerusalm e que provavelmente tivessem suaorigem ali (veremos este problema voltar a ocorrer mais tarde), e que asidolatrias descritas em Jerusalm (8:1-18) nSo poderiam ter ocorrido depois das reformas de Josias que ocorreram em 621 ft.C. A forma atual dolivro, com seu contexto babilnico, era a obra de Um redator posterior,anti-samaritano, que o reformulou e que acrescentou os captulos 4048como a planta de um novo templo que excederia o esplendor daquele

    que a seita samaritana construiu no Monte Gerizim. James Smith14 tambm atribuiu o ministrio de Ezequiel ao reinado de Manasss, mas considerou-o um personagem histrico cujo ministrio foi exercido parcialmente na Palestina e parcialmente entre os exilados do reino do norte, ode Israel (cf. as muitas referncias de Ezequiel a toda a casa de Israel).Pode at mesmo ter sido o sacerdote referido em 2 Reis 17: 28. ComoTorrey, Smith postulou um redator posterior que transformou o livroe lhe deu seu contexto babilnico.

    Hemtrich15 fez uso da obra destes dois homens para dar a Ezequielum ambiente palestiniano para a totalidade do seu ministrio proftico.NSo os seguiu em fazer este ministrio remontar at ao reino de Manasss, mas concentrou-o nos anos 593-586 a.C. Um discpulo de Ezequiel,

    posteriormente, revestiu sua obra em roupagens babilnicas e acrescentou os captulos 1 e 4048, bem como outra matria editorial. A obrade Hemtrich foi importante e influenciou vrios escritores,16 o princi

    pal entre eles sendo o alemo Alfred Bertholet, cujo segundo coment

    rio sobre Ezequiel17 incorporou a declarao clssica do ponto de vista de que Ezequiel exerceu um ministrio duplo. A partir de 593 a.C.,a data da sua chamada, Ezequiel profetizou em Jerusalm at a suaqueda; foi, entao, levado para o cativeiro e continuou seu ministriona Babilnia. Fischer18 modificou o ponto de vista de Bertholet no

    14. J. S. Smith, The Book o f the Prophet Ezekiel: a New Introduction(1931).15. V. Hemtrich,Ezechielprobleme(BZA W,1932).

    16. Cf. Oesterly e Robinson, An Introduction to the Books o f the Old Testa-ment (1934), pg. 325; J. Battersby Harford, Studies in the Book o fEzekiel(1935),

    17. A. Bertholet, Hesekiel CHandbuch zum Alten Testament, 1936). Seu comentrio anterior foi publicado em 1897 como Das Buch Hesekiel (Kurzer HandCommentar zum Alten Testament).

    18. O. R. Fischer, The Unity o f the Book o f Ezekiel(1939) (nSo publicado).

    18

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    20/2

    EZEQUIEL

    seguinte: acreditava que Ezequiel recebeu sua chamada inicial na Babilnia, no em Jerusalm, que envolveria um deslocamento grande demais

    do texto, mas que sua chamada era para ir casa de Israel, o que fez aoempreender a viagem para Jerusalm descrita em 8: 3. Entre outros queadotam o conceito de um ministrio duplo na Palestina e na Babilnia,h Pfeiffer,19 Wheeler Robinson,20 Auvray,21 eMay.22

    Contra este ponto de vista, G. A. Cooke23 insistiu na interpretao mais tradicional, fornecida pelo texto bblico, de uma localidadeexclusivamente babilnica para o ministrio de Ezequiel, explicandoem bases psicolgicas os problemas da conscincia aguda que Ezequieltinha dos eventos em Jerusalm e, mais especialmente, do estranho relato da morte de Pelatias (11:13). Durante muito tempo, a voz de Cookeficou solitria, mas a monografia de Howe, publicada em 1950,24 voltoucom todo o entusiasmo para as concluses to geralmente aceitas nocomeo do sculo. No se tratava de mero conservadorismo por amora si mesmo, mas, sim, do resultado de um exame cuidadoso das teoriasanteriores, que o levou concluso de que havia menos dificuldades em

    aceitar o ponto de vista tradicional do que em postular alteraes editoriais extensivas do texto. Howie foi seguido em linhas gerais por vrioscomentaristas do ps-guena, tais como George Fohrer,25 Walter Zimmer-li,26 Eichrodt,27 Muilenburg28 e Stalker,29 bem como por escritorestais como Orlinsky,30 Rowley31 e Eissfeldt.32

    19. Robert H. Pfeiffer,Introduction to the Old Testament(1941).20. H. Wheeler Robinson, Two Hebrew Prophets(1948), pgs. 75,81ss.21. P. Auvray,Ezchiel(Tmoins de Dieu, 1947).

    22. IB ,pg. 52.23. Cooke, pgs. xxiii-xxiv.24. C. G. Howie, The Date and Composition o f Ezekiel (JBLMonograph Se

    ries IV, 1950).25. G. Fohrer,Ezechiel (Handbuch zum A lten Testament,1955).26. W. Zimmerli,Ezechiel (Biblischer Kommentar,1955 em diante).27. W. Eichrodt, Der Prophet Hesekiel (Das A lte Testament Deutsch, 1959

    e 1966).28. Peake, pgs. 568-9.

    29. D. M. G. Stalker,Ezekiel(Torch Bible Commentaries, 1968).30. EmBASO R,CXXII, 1951, pgs. 34-36.31. Rowley,Men o f God(1963), pgs. 209-210.32. Eissfeldt, pg. 372, comenta: No que diz respeito ao perodo e locali

    dade do profeta, devemos ficar satisfeitos com a observao de que no h argumentos lealmente decisivos contra a fidedignidade da tradio que acha expresso emmuitas passagens do livro.

    19

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    21/2

    INTRODUO

    Muilenburg expressou suas concluses nos seguintes termos: Que olivro tem passado por uma histria literria longa e complicada, dificilmen

    te pode ser questionado, e fica aparente que representa uma compilao detradies de grande diversidade. Mesmo assim, o peso da evidncia parececair a favor de um ponto de vista no muito diferente daquele que era sustentado por estudiosos de geraes anteriores. A considervel falta de concordncia entre os resultados conseguidos pelos estudiosos recentes noinspira confiana na sua validez. Embora a presena de expanses e de suplementos possa muito bem ser admitida, mesmo neste caso a dificuldade que as passsagens so to semelhantes quanto ao estilo e ao contedo,

    que no se pode ter certeza absoluta do seu carter secundrio . .. Nossaconcluso, portanto, que o livro como um todo provm dele.33 Este o ponto de vista adotado no presente comentrio. As tentativas no sentidode isolar a prpria obra de Ezequiel daquela do seu redator foram evitadas

    por serem uma ocupao por demais incerta.34 A homogeneidade do livrointeiro tal que nos inclinamos ao ponto de vista de que o profeta poderia,muito provavelmente, ter sido seu prprio redator.

    Muitos leitores, no entanto, consideram esta questo como pouco

    conseqente, e vem ao livro de Ezequiel ansiosos para compreender amensagem do livro, e para ouvir a palavra do Senhor falando sua prpriagerao, assim como falava aos judeus do sculo VI a.C.

    II. EZEQUIEL, O HOMEM

    Ezequiel era o filho de Buzi; era um sacerdote, e provavelmente filho de um sacerdote.35 Foi levado para o cativeiro em 597 a.C., quandoos exrcitos de Nabucodonosor, rei da Babilnia, tomaram Jerusalm depois de um breve cerco. Com o jovem rei Joaquim e todos os prncipes,todos os homens valentes, todos os artfices e ferreiros (2 Rs 24:14),foi removido do Templo, que haveria de ser sua vida, e estabelecido nas

    plancies poeirentas da Babilnia. No quinto ano do seu exlio, i., 593

    33. Peake, pg. 569.34. Cf. S. Mowinckel,Prophecy and Tradition(1946), pgs. 84-5.35. O fato de que esta informao achada em 1: 2,3 , a passagem na tercei

    ra pessoa do singular que pode muito bem ter sido uma interpolao editorial, nSo invalida, de modo algum, a veracidade destas declaraes. Se no tivssemos sido informados que Ezequiel era um sacerdote, quase certamente teramos adivinhado que eleo era.

    20

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    22/2

    EZEQUIEL

    a.C., veio a ele a chamada de Deus para exercer um ministrio profticodirigido casa de Israel. Se temos razo para pensar que o trigsimo

    ano referido em 1:1 era o seu trigsimo ano de idade, segue-se que Eze-quiel era um homem jovem, com vinte e tantos anos, quando comeou oexlio, e isto deixaria espao para o perodo considervel de tempo durante o qual se estendeu seu ministrio. A data mais avanada que atribuda a um dos seus orculos o vigsimo-stimo ano do exlio (29:17), e isto o levaria at idade de 52 anos. Nada se sabe da sua vida parte daquilo que contido no livro que leva seu nome, nem existe tradio algumaque nos diga onde ou como morreu. Sabemos que era casado, e que sua

    esposa morreu na ocasio da queda de Jerusalm (24: 18). Era um homemde influncia, sendo consultado pelos ancios entre os exilados (8:1;20:1); e embora isto talvez se deva ao seu ministrio proftico e reputao que rapidamente adquiriu, igualmente provvel que seja atribuvel sua posio social herdada do seu pai, Buzi.

    parte da sua visita visionria a Jerusalm (8:3-11:24), o nico local com o qual Ezequiel tem conexes , ou sua casa, ou a plancie (ouo vale; 3:22-23; 37:1), perto do rio Quebar num lugar chamado TelAbibe. O rio Quebar tem sido tentativamente identificado com o narukabar, ou grande rio, referido em dois textos cuneiformes de Nipur.Era o nome dado a um canal de irrigao que trazia as guas do Eufratesnuma volta para o sudeste, da Babilnia via Nipur, e de volta para o rioprincipal perto de Uruque (a Ereque bblica). Seu nome moderno Shatten-Nil. No se conhece nada acerca da geografia de Tel Abibe, a no serque talvez represente Ac. til abbi (cmoro de dilvio?). A primeira

    palavra uma descrio comum dada a um cmoro que cobria os restosde uma sucesso de cidades enterradas (cf. Tel el-Amama, Tel es-Sultan,etc.), e uma comparao com Esdras 2: 59 (onde alguns dos exilados quevoltavam eram provenientes de lugares tais como Tel-Mel e Tel-Harsa) sugere que os cativos judeus tinham recebido permisso para edificar suas comunidades de exlio em velhos stios arruinados deste tipo, que at hojeesto espalhados pelas plancies da Babilnia. Quanto casa de Ezequiel,

    podemos deduzir que era feita de tijolos de barro, tpicos da localidade,

    e isto sugere um modo de vida razoavelmente estabelecido para os exilados.36O profeta parece ter tido razovel liberdade de movimentos para

    36. O tijolo mencionado em 4 :1 era deste tipo , e a ao de escavar a paredeem 12:5 sugere este tipo de construo.

    21

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    23/2

    INTRODUO

    entrar e sair vontade, e a evidncia da chegada do fugitivo (33:21) eda correspondncia de Jeremias com os exilados (Jr 29) indica que a exis

    tncia deles no era a de um campo de concentrao. Deve ter havido restries, mas a organizao comunitria (i., a existncia de ancios, 8: 1;20: 1), a agricultura, o culto e a instruo, o casamento e os vnculos decomunicao com Jerusalm eram todas permitidas. quase certo que

    puderam visitar algumas das grandes cidades do pas, das quais a principal era Babilnia com seus jardins suspensos mundialmente famosos, suasvastas fortificaes e a magnfica Porta de Istar. Ezequiel deve ter vistoos zigurates, ou templos-torres, com seus degraus, que relembravam a tor

    re de Babel, e talvez tivesse conscincia da sua semelhana formal com ogrande altar com degraus no Templo de Salomo, que incorporou, commodificaes muito leves, no seu prprio templo do futuro (43: 13-17;Fig. IV). Deve ter ficado consciente das estranhas criaturas compostas, semelhantes a esfinges, que eram retratadas em todo lugar, ou como divindades, ou como guardis dos deuses, e no impossvel que a vista destastenha encorajado a sua imaginao, para pensar em termos semelhantes,quando descrevia as suas vises, embora nunca deva ser esquecido que

    seu treinamento sacerdotal do Templo de Jerusalm o teria levado a conhecer os querubins retratados ali. Sua impresso mais marcante, no entanto, deve ter sido a da combinao da idolatria excessiva e do esplendor mundano. A multiplicidade dos templos, a prosperidade incrvel dacidade, a colmia de realizaes e de cultura, tudo isto teria feito qualquer cativo hebreu sentir quo pequena era sua ptria e quo grandeseram os deuses de Nabucodonosor, que a tudo conquistavam. Mas umavez que Ezequiel tinha tido sua viso da merkabah, do carro-trono de Ja-

    v, confirmando para ele que o Deus de Jerusalm estava vivo e triunfantemesmo nesta terra pag e politesta da Babilnia, no surpreendente descobrir que seu tema recorrente a majestade do Senhor e que sua mensagem reiterada que a casa de Israel, os exilados, as naes do mundo, atmesmo as foras das trevas, todos sabero que eu sou o Senhor. A julgar pela freqncia do uso desta expresso (mais de cinqenta vezes aotodo), este alvo era a paixo consumidora de Ezequiel.

    Tudo isto pressupe que o ministrio de Ezequiel foi realizado na

    Babilnia. Contra este ponto de vista, os defensores de um ministrio parcial ou total na Palestina, argumentam que seu conhecimento ntimo dasidolatrias que estavam sendo praticadas no Templo (8:1-18), sua aparente confrontao com Pelatias (11:1-13) e sua conscincia teleptica deeventos tais como o comeo do stio de Jerusalm (24:2) e sua queda ul-

    22

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    24/2

    EZEQUIEL

    terior (33:22), indicam que esteve pessoalmente em Jerusalm parte dotempo, ou at mesmo o tempo todo. Alm disto, argumentariam que sua

    comisso era para a casa de Israel, que muitas das suas mensagens diziamrespeito a Jerusalm (4: 1-5: 17) e que eram dirigidas ao povo de Jerusalm e de Jud(6:1-7:13; 16:3ss; 21: l-17;etc.), e que difcil contemplar(nas palavras de Cooke), um profeta na Babilnia lanando suas dennciascontra os habitantes de Jerusalm atravs de 1.100 km de deserto.37 Ningum, no entanto, ainda insistiu que os orculos de Ezequiel dirigidos snaes estrangeiras deveriam ter sido entregues no territrio dos amonitasou no Tiro ou no Egito, e no h necessidade de supor que seus orculos

    dirigidos a Jerusalm devam, portanto, ter sido entregues na cidade santae no frente dos exilados. Conforme Ellison38 indica com razo: Eze-quiel estava realmente profetizando acerca deJerusalm mas noparaJerusalm. Embora vrios anos tivessem passado desde a ocasio da sua de

    portao, os exilados ainda viviam para Jerusalm e para o lar. Era o centro dos seus interesses e das suas esperanas; cada pedacinho de notciasque chegasse at a Babilnia era tratado como um gro de ouro em p. parte da durao da sua permanncia no exlio, os eventos em Jerusa

    lm eram o nico fator supremamente relevante no pensamento deles.Seria deveras estranho se Ejsequiel no lhe desse o destaque que mereciano seu ministrio aos exilados.

    Isto ainda no resolve o problema da visita de Ezequiel a Jerusalm, de modo semelhante a um xtase. Aqui, porm, estamos enfrentando o problema da facilidade de comunicao entre a Babilnia e Jerusalm. altamente improvvel que Ezequiel tivesse tido licena paravoltar do exlio para Jerusalm, e a sugesto de Bentzen39 de que a

    permisso talvez tivesse sido concedida, a fim de que Ezequiel pudesse ser usado como joguete da propaganda babilnica, pouca coisa tempara recomend-la. Se for exigido um ambiente palestiniano para qualquer parte do ministrio de Ezequiel, seria prefervel argumentar quetal ministrio deveria ter seguido uma chamada original na Palestina, eno na Babilnia. Mas postular uma chamada original na Palestina envolve muitos deslocamentos e rearranjos do texto conforme o temos noscaptulos 1-3. Um estudo dos esforos feitos pelos comentaristas para se-

    37. Cooke, pg. xxiii.38. Ellison, pg. 20.39. Aage Bentze, Introduction to the Old Testament (1948), Vol. II, pg.

    128. [Editado em portugus pela ASTE.]

    23

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    25/2

    INTRODUO

    parar dois fios literrios distintos nos captulos 1-3, sendo que um pertenceria a uma chamada original na Palestina, e o outro seria um novo comis

    sionamento na Babilnia, bastar para convencer a maioria dos leitores deque a engenhosidade e as emendas necessrias para a tarefa condenama teoria como sendo altamente implausvel. E Orlinsky pergunta, de modo pertinente: 0 que Ezequiel (ou um redator) poderia ter esperado ganhar com a mudana da localidade da chamada inicial de Jud (se foi l)para a Babilnia?40 A pergunta de Orlinsky no recebeu uma resposta satisfatria, mas os expositores de um ministrio duplo argumentam, do outro lado, que a teoria; deles oferece uma explicao melhor dos problemas

    associados com os poderes aparentemente telepticos de Ezequiel.Ao presente escritor parece, no entanto, que aqueles que adotameste ponto de vista esto se esforando demasiadamente para reduzirEzequiel a um nvel de completa normalidade. A anormalidade dalgumtipo era um aspecto essencial do ministrio carismtico do profeta vtero-testamentrio. Ele tinha uma conscincia incomparvel de Deus, sejaa partir de uma experincia sobrenatural, visionria, que se constitua nasua chamada, seja a partir da conscincia interior de ter uma mensagem de

    Deus implantada na sua mente. Era um homem para o qual o milagrosono tinha surpresas, especialmente quando este tinha conexo com o cumprimento de palavras que falara sob constrangimento divino. Se os poderes extra-sensrios de Ezequiel tivessem operado com freqncia demasiada, ou tivessem sido ligados vontade, poderamos sentir alguma suspeita; do, porm, a impresso de terem sido raros, memorveis, e vinculados exclusivamente com eventos de importncia crucial. Ao mesmo tem

    po, devemos precaver-nos contra uma avaliao exagerada destes pode

    res, porque boa parte dos conhecimentos que Ezequiel revela ter do estado das coisas em Jerusalm pode muito bem ter chegado a ele atravsdos canais normais de informaes, mormente visto que ele teria sido umdos primeiros a receber notcias confidenciais acerca das questes doTemplo.41 As coincidncias verdadeiras parecem ser a morte de Pela-tias (11:13) e o comeo do cerco de Jerusalm (24:2).

    0 caso de Pelatias est encaixado no contexto da viso de Ezequiel,em que se sentiu transportado para Jerusalm. Ainda na viso, v vinte

    e cinco ancios entrada da porta oriental do Templo, e consegue identificar dois deles, Jaazanias, filho de Azur, e Pelatias, filho de Benaia.

    40. BASOR,CXII, 1951, pg. 35.41. Note o uso da frase veio a mim em 3 3:21.

    24

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    26/2

    EZEQUIEL

    razovel supor que ambos eram bem conhecidos, conhecidos pelo nomepor Ezequiel e pelos ancios entre os exilados, em cuja presena diz-se queEzequiel teve esta viso, e aos quais o profeta subseqentemente descreveu tudo (11:25). Enquanto Ezequiel profetizava, Pelatias caiu morto.O texto no estipula que foi por causa daspalavras de Ezequiel que elemorreu (como no caso de Ananias e Safira em At 5:5, 10), mas a coincidncia foi suficiente para deixar Ezequiel chocado e amedrontado (11:13b). A relevncia deste evento dupla. Primeiramente, significanteque Ezequiel tinha a capacidade de ter conscincia de uma ocorrncia notvel, que se realizava a uma distncia de centenas de quilmetros, nomesmo momento em que ele estava num tipo de xtase em Tel-Abibe. Emsegundo lugar, quando a notcia deste evento chegasse aos ancios noexlio, seria uma confirmao poderosa dos poderes sobrenaturais deEzequiel e autenticaria a ele e sua mensagem aos olhos deles. A importncia deste incidente no , portanto, demonstrar que Ezequiel tinhao poder de fulminar um homem com uma nica palavra a uma distnciade 1.100 kms, conforme alguns interpretariam. Essa era a ltima coisaque Ezequiel desejava ou pretendia que acontecesse. Pelo contrrio,

    ilustra sua conscincia de um evento de importncia que ocorria a umagrande distncia e , portanto, um paralelo exato com os outros exemplos deste mesmo poder em conexo com a cronologia do cerco e daqueda de Jerusalm. Desejar negar a um profeta de Deus exibies ocasionais de tal poder, demonstra uma falta de compreenso do poderdo Esprito de Deus num homem, e negar este poder a Ezequiel, entretodas as pessoas, procurar fazer dele uma pessoa diferente do que era.

    Segundo o nosso modo de julgar, igualmente errado procurar

    categorizar Ezequiel, especialmente a esta distncia no tempo, em termos psicolgicos modernos. Seu comportamento incomum e seus atossimblicos altamente imaginativos tm sido explicados de vrias maneiras. Stalker comenta: Ezequiel tem sido chamado um catalptico, umneurtico, uma vtima do histerismo, um psicopata, e at mesmo umesquizofrnico paranico especfico, alm de ter sido creditado com poderes de clarividncia e de levitao.42 Transferir seu ministrio paraJerusalm talvez remova o estigma dalgumffi destas acusaes, mas no

    soluciona o problema de modo satisfatrio, porque, conforme temos visto, levanta jnais problemas do que soluciona. Boa parte do comportamento anormal de Ezequiel questo de interpretao. Logo de in-

    42. Stalker, pg. 23.

    25

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    27/2

    INTRODUO

    cio, conforme j observamos, um certo grau de anormalidade era normal para um profeta; era arrebatado em xtase, e freqentemente refora

    va seus orculos com atos dramticos (cf. Zedequias, filho de Quenaan,1 Rs 22:11; e Jeremias, Jr 13:1-14; 19:10-13). Ezequiel tambm era umsacerdote por treinamento e criao, e, portanto, o simbolismo em grandeescala era uma segunda natureza para ele, especialmente um simbolismoque combinava palavras e aes. Independentemente daquilo que pensamos acerca do aspecto estranho dalgumas das suas aes, acerca da sua tristeza silenciosa na ocasio da morte da sua esposa, da sua mudez, dos seuslongos perodos deitado num s lado, impressiona-nos como sendq uma

    personalidade supremamente controlada, preso por um zelo apaixonado porDeus, e no sujeito a alguma doena mental. Ele melhor compreendido, escreve Howie, como sendo uma alma humana sensvel presa nascorrentezas conflitantes da histria, impulsionado por um zelo ardente

    por Deus, dolorosamente consciente da tragdia em que seu povo estavaenvolvido.43 Sua sensibilidade pode ser julgada pela breve descrio dosseus sentimentos pela sua esposa (24:15-18), pela sua petio sincerano sentido de Deus poupar Seu povo e no destru-lo completamente

    (9:8; 11:13), e pela ternura da sua descrio de Deus como o Pastor dasSuas ovelhas (34:11-16). Isto contrabalana a severidade de muitas dassuas profecias de julgamento, e a fria lgica da sua insistncia de que Deusagir no por amor de vs . . . mas pelo meu santo nome (36:22).

    Para Ezequiel, tudo tinha um significado. As aes que praticava,as palavras que usava, todas visavam uma finalidade. Sua mudez tpicade sua personalidade. No poderia ter sido uma mudez literal, seno, teramos de deslocar todos os orculos que foram atribudos a ele antes de

    33:22. Certamente o redator da obra acabada no quis que interpretssemos desta maneira a sua mudez. A nica alternativa que era uma mudez ritual, a proibio imposta, e aceita de bom grado, de qualquer falaa no ser que se tratasse de um pronunciamento dado pelo Senhor. Compreendia assim, pode-se entender quanta considerao adicional seria atribuda s suas aes simblicas e aos orculos que as acompanhassem. Suasvises eram exemplos clssicos deste sentido simblico. A viso inauguraldo carro-trono continha significado em cada linha; boa parte dela no

    compreendida por ns hoje, mas mesmo assim, o esboo geral ainda podeser discernido. Procurava descrever o indescritvel e dizer na linguagem daexperincia espiritual algo acerca do Deus que representava. A viso do no-

    43. Howie, pg. 15.

    26

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    28/25

    EZEQUIEL

    vo templo, do outro lado, empregava o simbolismo sacerdotal para dizero que este Deus requeria dos Seus adoradores. vinculada com conceitos

    de santidade, e com a exigncia de ordem e perfeio, de reverncia esimetria.Como escritor, Ezequiel freqentemente enfadonho e repetitivo.44

    Certo nmero limitado de frases e temas ocorrem freqentemente, e istopode ser desanimador para os leitores modernos que no tm familiaridade com as antigas convenes literrias. Ocasionalmente, emprega poesia,mas na maior parte escreve prosa; no uma prosa pitoresca e descritiva,mas, sim, uma prosa sombria e proftica, com cadncia, mas sem mtrica

    discemvel. Quando recita uma poesia, freqentemente uma elegia oulamentao (Hb qin\veja a nota sobre 19:1), uma poesia escrita no ritmo pesaroso de 3:2. s vezes, colhe um fragmento de um cntico, tal como o cntico da spada (21:9, 10) ou o cntico da panela (24:3-5), e osinterpreta da sua prpria maneira. Revela ter uma imaginao vvida nasua lamentao sobre os reis de Israel (19:1-14), e na sua descrio donaufrgio do navio Tiro (27:3-9, 25-36), bem como na viso do vale dosossos secos (37:1-10), mas noutras ocasies demonstra uma notvel falta

    de imaginao. A nica coisa que no lhe falta uma paixo intensapara com Deus, para com sua mensagem, e para com seus ouvintes. Tudo era subordinado ao seu senso quase esmagador de obrigao e responsabilidade. Era um atalaia, e se deixasse de advertir seu povo, o sanguedeste recairia sobre ele. Com esta finalidade em mira, estava disposto aauscultar a disposio de esprito que prevalecia entre os exilados e a responder s objees deles. Retomava provrbios populares (11:3; 12:22,27; 18:2) e demonstrava que no tinham validade alguma. Respondia ao

    atordoamento inexpressado que estava no corao dos homens (18:19,25; 20:32). Em sntese, combinava de maneira sem igual o senso que o sacerdote tem da santidade de Deus, o senso que o profeta tem da mensagem com que foi confiado, e o senso que o pastor tem da sua responsabilidade para com seu povo.

    44. Exemplos de frases freqentemente usadas por Ezequiel numa variedade

    de formas so: sabero que eu sou o SENHOR (66 vezes); vindicarei a santidadedo meu grande nome (8 vezes); eu (o SENHOR) falei (e eu o farei) (49 vezes);assim como eu vivo, diz o SENHOR (15 vezes); os espalharei entre as naes, eos derramarei pelas terras (9 vezes); vos congregarei das terras . . . (10 vezes); derramarei minha ira (satifarei m inha furia) sobre vs (16 vezes); veio a mim a palavrado SENHOR (49 vezes); pelo . . . por isso . . . (37 vezes).

    27

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    29/2

    INTRODUO

    ffl. O FUNDO HISTRICO

    O primeiro perodo da vida de Ezequiel testemunhou o fim do do

    mnio do Imprio Assrio, um breve perodo interino da influncia egpcia nos negcios de Jud, e depois, o crescente controle dos reis da Babilnia sobre a poltica do Oriente Prximo. Os reis de Jud em cujo reinadoEzequiel viveu foram:

    Josias 640-609 a.C.Jeoacaz 609 a.C.Jeoaquim 609-597 a.C.

    Joaquim 597 a.C.Zedequias 597-587 a.C.

    O programa extensivo que Josias realizou, de consertos no Temploe de reformas religiosas, bem conhecido a todo leitor do Antigo Testamento (2 Rs 22:1-23: 30; 2 Cr 34: 35). Seu reinado foi uma marca divisria no desenvolvimento espiritual de Jud. Embora suas reformas fossem

    baseadas na descoberta do livro da lei durante as obras de reconstruono Templo (quase certamente se tratava de Deuteronmio, completo ouem parte), sua liberdade para lev-las a efeito devia-se parcialmente s consideraes polticas. No Oriente Prximo antigo, a vassalagem freqentemente envolvia a parte inferior numa obrigao de aceitar a adorao aosdeuses do suserano, bem como o pagamento de tributos ou outros impostos. Destarte, o culto s divindades astrais ou o levantamento de dolospelos reis anteriores de Jud freqentemente eram sinais de submisso autoridade assria. A reforma religiosa, portanto, no era simplesmenteum ato interno, nascido do despertamento espiritual, mas tambm poderia ser interpretada como um movimento de rebelio contra o domniode um aliado poderoso. Foi o fato da influncia da Assria enfraquecer-se que deixou Josias levar a efeito as reformas que, tanto seus prpriosdesejos, quanto a descoberta do rolo to longamente negligenciado, oencorajavam a realizar.

    O colapso da Assria pode ser datado pela queda de Nnive em

    612 a.C., e a supremacia da Babilnia foi garantida sete anos mais tarde,quando Nabucodonosor derrotou de modo esmagador o exrcito do Egito em Carquemis, no Eufrates, em 605 a.C. Entre estas datas ocorreu amorte misteriosa do malfadado Josias s mos do Fara Neco II do Egito. Muitas tradues bblicas (2 Rs 22:29) sugerem que Neco iria lutar

    28

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    30/2

    EZEQUIEL

    contra a Assria, e um mistrio por que Josias desejaria se opor a ele afavor da Assria. Sabemos, porm, pela Crnica Babilnica,45 que o Egi

    to estava indo socorrer a Assria contra a ameaa babilnica [a palavrahebraica traduzida para pode ser intepretada contra ou a favorde, da a traduo bblica depender doutras informaes. N.Tr.]. Agora, o problema muda: por que Josias tomou uma posio aparentemente pr-Babilnia? improvvel que j estivesse em aliana com a Babilnia, de modo que somente podemos supor que ele sentisse que uma vitria egpcia faria mais danos a Jud, em ltima anlise, do que uma vitria babilnica. De qualquer modo, sua ao suicida lhe custou a vida, e

    Jeoacaz, seu filho (tambm chamado Salum), ficou sendo rei no seulugar. A campanha de Neco contra a Babilnia foi mal-sucedida e, portanto, numa tentativa de estabelecer seu domnio sobre a Sria e a Palestina, mandou deportar Jeoacaz para o Egito depois de um reinado deapenas trs meses,46 e colocou no seu lugar seu irmo, Eliaquim. Ao mesmo tempo, demonstrou sua autoridade e a condio de vassalo de Eliaquim ao dar-lhe o nome oficial, como rei, de Jeoaquim, e ao imporum fardo pesado de tributo sobre a terra (2 Rs 23:31-35).

    Jeoaquim foi um governante totalmente irresponsvel no que diziarespeito s necessidades do seu povo, e mereceu o total desprezo de Jeremias, especialmente por seus planos grandiosos para reformas no palcioe pela imposio de trabalhos forados para lev-las a efeito (ver Jr 22:13-19). As reformas religiosas de Josias tomaram-se sem efeito, sem dvida

    parcialmente por causa da morte trgica daquele bom rei, que, decerto,parecia a muitas pessoas uma contradio da f que defendia, e todos os tipos de prticas idlatras entraram paulatinamente na vida de Jerusalm.

    Os cultos pagos referidos por Ezequiel em 8:1-18 no passaram da continuao de um movimento que comeou com a ascenso de Jeoaquim.No quarto ano de Jeoaquim, o exrcito de Neco, que tinha mantido vigilncia cautelosa nas fronteiras do norte da Sria, perto de Carquemis,foi completamente esmagado, primeiramente em Carquemis (605 a.C.) edepois, outra vez, enquanto estava em plena retirada, em Hamate. Poucodepois, Jeoaquim veio a ser tributrio de Nacubodonosor (2 Rs 24:1),

    45. A Crnica Babilnica um relato fidedigno, factual, dos anais do Imprio Babilnico desde 626 at 539 a.C. As partes atualmente existentes abrangemos anos 626-622, 610-594, 556, 555-539 a.C., e freqentemente lanam luz sobre acronologia do Antigo Testamento. Algumas sees relevantes se acham em DOTT,

    pgs. 75-83.46. Para uma elegia sobre Jeoacaz, ver Jr 22:10-12 ;Ez 1 9 :2 4 .

    29

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    31/2

    INTRODUO

    mas diante do primeiro sinal de fraqueza da parte dos babilnios (umabatalha indecisiva entre Neco e Nabucodonosor em 601 a.C. levou este

    ltimo a voltar para casa a fim de reorganizar seu exrcito), o rei judeurebelou-se. Foi-lhe permitido apenas um perodo temporrio de folga.Enquanto Nabucodonosor estava muito ocupado tratando de outros problemas, enviou contingentes menores das suas foras, juntamente com bandos incursores dos seus vassalos srios, amonitas e moabitas (2 Rs 24:2;Jr 35:11), para pilhar Jud. Depois, em dezembro de 598 a.C., avanoucom todo o seu exrcito contra Jerusalm. Ao mesmo tempo, Jeoaquimmorreu, possivelmente assassinado,47 e seu filho de dezoito anos, Joaquim

    (tambm chamado Conias ou Jeconias, Jr 22:24, 28; 1 Cr 3:16), teve deescolher entre a resistncia ou a capitulao. A ajuda esperada da parte doEgito deixou de concretizar-se (2 Rs 24: 7) e, depois de um stio de trsmeses, o jovem rei entregou-se no segundo dia de Adar de 597 a.C., i.,16 de maro. Juntamente com a rainha-me e os palacianos, e todos principais cidados da terra (os prncipes, todos os homens valentes, todosos artfices e ferreiros, so mencionados especificamente; 2 Rs 24:14),foi levado para o cativeiro na Babilnia onde, segundo parece, viveu o

    decurso normal da vida. H somente uma outra referncia a ele, em 2 Rs25: 27-30, que completou o relato da monarquia ao acrescentar que notrigsimo stimo ano do seu exlio, no ano da ascenso de Evil-Merodaque,rei da Babilnia (i., Amel-Marduque, 562-560 a.C.), foi liberto do crcere,ou da priso domiciliar, mais provavelmente, e ficou sendo um pensionistavitalcio mesa do rei.

    Um notvel raio de luz foi lanado sobre o cativeiro de Joaquimpela descoberta, feita por R. Koldewey, de grande nmero de tbuas cu-

    neiformes armazenadas nas adegas subterrneas palacianas da Babilnia,no muito longe da Porta de Istar. Pareciam ser registros de raes de azeite e cevada distribudas aos prisioneiros pelo administrador principal. Embora fossem descobertas no comeo do sculo e trazidas para o MuseuKaiser Friedrich em Berlim, foi somente em meados da dcada de 1930que um assirilogo, E. F. Weidner, comeou a l-las e traduzi-las. No decurso do seu trabalho, achou o nome Yaukinu, Joaquim, e a identificao foi confirmada pela descrio rei da terra de Yahudu. A tbua de

    47. Jeoaquim morreu antes dos exrcitos babilnicos chegaxem a Jerusalm,e a declarao em 2 Cr 36: 6 pode indicar que foi seqestrado por um partido pr-Babilnia.

    48. Para uma traduo e avaliao, verDOTT,pgs. 84-86.

    30

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    32/2

    EZEQUIEL

    raes transmite poucas informaes por si s,48 mas a relevncia acha-sena descrio de Joaquim como um rei. Aparentemente, ainda era conside

    rado pela administrao babilnica como o legtimo titular do trono, eZedequias era considerado apenas como um regente temporrio. Se assim for (e uma das tbuas que mencionam o nome de Joaquim pode serdatada em 592 a.C.,49 i., no tempo de Zedequias), d motivos adicionais

    para a expectativa confiante dos exilados de que a volta dele para Jud, ea repatriao deles, era iminente.50 Ajuda-nos, tambm, a compreenderporque Ezequiel, embora no participasse do otimismo dos exilados, rejeitava a realeza de Zedequias, evitava escrupulosamente a atribuio a ele

    do ttulo de rei (rnlek), e datava todos os seus orculos segundo o exliodo Rei Joaquim (assim descrito em 1:12).

    L em Jud, Zedequias, irmo de Joaquim, que fora nomeado rei-t-tere em Jerusalm, era um fraco, e totalmente incapaz de enfrentar as correntezas polticas cruzadas do seu tempo. Embora tivesse sido nomeado

    pelos babilnios, e devesse lealdade a Nabucodonosor, havia influnciaspoderosas pr-egpcias que o encorajavam a rebelar-se. Um dos seus conselheiros era Jeremias, cuja defesa de um poltica de submisso Babilnia

    granjeou-lhe muito dio entre o povo. Zedequias procurava proteg-lo, masa descrio dos seus esforos, feita em Jeremias 37 e 38, indica que o

    poder real ficava com o partido pr-guerra, e que o poder do rei era severamente limitado. Uma crise poltica ocorreu cedo no seu reinado quandohouve, aparentemente, um movimento da parte dos vizinhos de Jud (Moa-be, Edom, Amom, Tiro e Sidom estavam envolvidos)51 para unir-se em rebelio contra Nabucodonosor, mas Jeremias ops-se fortemente a isto,e parece que veio a dar em nada.52 Finalmente, no entanto, o entusiasmo

    pblico pela revolta foi atiado pelos exaltados polticos, e com o apoiodo fara do Egito, Psamtico II (593-588 a.C.), Zedequias, um pouco contra sua vontade, deu o salto mortal.53

    49. W. F. Albright, King Joiachin in Exe ,BA,V, 1942, pgs. 49-55.50. Esta expectativa tambm era acalentada em Jerusalm, e era alimentada

    pelas palavras de profetas tais como Hananias (Jr 2 8:14).51. Jr 2 7 :2ss.

    52. A rebelio pode muito bem ter sido fomentada por notcias da revoltana Babilnia em 5954 a.C., em que muitas das tropas de Nabucodonosor tiveram deser executadas antes dela finalmente poder ser esmagada. Se assim for o caso, a visitade Zedequias Babilnia em 594-3 a.C. (Jr 51:59) pode ter tido a finalidade de aliviar suspeitas e de afirmar sua lealdade pessoal ao rei.

    53. O nico outro pas que apoiou a revolta foi Tiro, e digno de nota que

    31

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    33/2

    INTRODUO

    A retaliao foi rpida. J em janeiro de 588 a.C. o exrcito da Babilnia estava s portas de Jerusalm, e dentro em breve, somente Laquis eAzek, de toda as cidades fortificadas de Jud, ainda estavam resistindo.

    Numa coleo de cartas, escritas para o comandante da guarnio em Laquis, e tambm escritas da parte deste, e descobertas ali em 1935, a quedade Azek descrita vlvidamente.54 No vero de 588, a aproximao de umexrcito egpcio provocou um levantamento temporrio do cerco de Jerusalm, mas logo foi afugentado e o cerco recomeou. Em julho de 587os muros foram rompidos numa parte, e Zedequias aproveitou a oportunidade para escapar, mas foi apanhado perto de Jeric e levado prisioneiropara Ribl, o quartel-general de Nabucodonosor para esta campanha. Seu

    castigo foi ter de ver seus filhos trucidados, e depois ter os olhos vazados,para, ento, ser levado acorrentado Babilnia, onde morreu. Um msmais tarde, Jerusalm foi reduzida a chamas, com o acompanhamento demais execues de lderes civis e militares, e de mais uma deportao para a Babilnia.

    0 pouco que sobrou de Jud foi incorporado numa provncia babilnica, e um membro do gabinete de Zedequias, Gedalias, foi nomeadogovernador. Posto que o pai deste, Aico, certa vez salvara a vida de Je

    remias (Jr 26:4), no impossvel que Gedalias, tambm, fosse amigo de Jeremias e o tenha apoiado na sua poltica de aplacar a Babilnia. Isto explicaria sua nomeao para seu novo cargo, mas era considerado pormuitas pessoas como um colaborador do inimigo e, dentro de pouco tempo (pode ter sido poucos meses ou poucos anos) foi assassinado em Mispapor um grupo de homens liderados por Ismael, um membro da famliareal. Este foi o sinal para um xodo geral de Jud, provavelmente por causa do temor da represlia; e, muito contra a sua vontade, Jeremias foi leva-

    as condenaes mais fortes de Ezequiel foram dirigidas contra o Egito e Tiro (Ez26-32). A satisfao maligna com a queda de Jerusalm, que Ezequiel atribua aAmom, a Moabe, a Edom e Filstia (Ez 25), talvez seja um indcio de que estes

    pases ou se retiraram da aliana rebelde, ou at mesmo tomaram ativamente partido com Nabucodonosor quando perceberam a direo que os eventos estavam tomando.

    54. Estas cartas oferecem registros contemporneos fascinantes dos even

    tos em Jud neste perodo, e devem ser lidas em DOTT,pgs 212-217. Na sua pre-leo Tyndale, The Prophet in the Lachish Ostraca (1946), o Professor D. Win-ton Thomas discute as evidncias em prol de identificar com Jeremias o profetareferido nas cartas.

    55. Ver a advertncia de Jeremias quanto a isto, em 37:5-10.

    32

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    34/2

    EZEQUIEL

    do junto com estes imigrantes polticos para o Egito, onde terminou seusdias (Jr 4044).

    Antes de procurar encaixar a cronologia de Ezequiel neste panorama histrico, vale a pena fazer a pergunta: por que Jeremias e Ezequiel no fazem referncia explcita um ao outro? Embora fossem se

    parados por uma grande distncia, os dois eram homens de destaque namesma esfera da religio proftica, tratavam de temas semelhantes, e freqentemente seus ensinos coincidiam ou se encaixavam de modo bemnotvel. Alguns sugeriram que os dois homens se opunham um ao outro,que Jeremias classificava Ezequiel com os profetas no exlio, tais comoAcabe, filho de Colaas, e Zedequias, filho de Maasias, aos quais condenou severamente em 29:15, 20-23, e que a crtica de Ezequiel aos lderes em Jerusalm ocultava uma aluso a Jeremias. Mas h falta totalde evidncia em prol disto. No necessrio que a falta de dois profetascontemporneos mencionarem um ao outro pelo nome cause surpresa:Ams e Osias, Isaas e Miquias, Ageu e Zacarias, so outros exemplosde silncio sem qualquer animosidade subentendida. Ao presente escritor parece que estes dois profetas do exlio revelam seu conhecimentoum do outro com numerosas aluses ao ensino do outro, ou, pelo menos, aos mesmos temas que ocupam a ateno do outro. Os dois, aparentemente, estavam tomando uma posio solitria em prol da verdade:um deles em Jerusalm, e o outro na Babilnia: os dois insistiam que o futuro de Israel achava-se com os exilados e no com aqueles que foramdeixados para trs em Jerusalm; os dois rejeitavam o fatalismo daquelesque citavam o provrbio acerca dos pais que comeram uvas verdes e os

    dentes dos filhos que foram embotados; os dois censuravam os pastoresde Israel que deixavam de cuidar do rebanho; os dois enfatizavam o princpio da retribuio individual e a necessidade do arrependimento individual; os dois previam um exlio prolongado, seguido pela restaurao sobuma liderana piedosa; os dois falavam em termos de uma nova alianaque seria apropriada intema e pessoalmente; e os dois falavam contra osfalsos profetas que profetizavam a paz quando no havia paz.

    Estes paralelos e semelhanas entre Jeremias e Ezequiel no respon

    dem pergunta que foi originalmente feita, mas sugerem, isto sim, que osdois homens quase certamente tinham conscincia da existncia um do outro, e provavelmente tinham simpatia um com o outro. Se, naturalmente,um ambiente palestiniano para o ministrio de Ezequiel fosse postulado, oproblema da sua falta de meno um do outro, enquanto viviam e pregavam como vizinhos prximos entre si, seria consideravelmente agravado,

    33

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    35/2

    INTRODUO

    mas j rejeitamos tal possibilidade, por outros motivos. Finalmente, devemos lembrar-nos de que, embora conheamos pelo nome somente es

    tas duas grandes personalidades profticas do exlio, juntamente com osnomes de umas poucas figuras obscuras tais como Urias (Jr 26:20-23) eHananias (Jr 28:1-17), deve ter havido dezenas de homens em Israelque diziam ser profetas, e nem sempre teria sido fcil para os verdadeirosserem distinguidos dos falsos. Entre tais profetas havia, sem dvida, uns

    poucos do calibre de Urias, mas muitos outros devem ter sido do tipo deHananias, contra quem foram dirigidos captulos tais como Jeremias 23 eEzequiel 13. Devemos, portanto, acautelar-nos contra tirar concluses indevidas a partir de evidncias mnimas, e devemos ter cuidado, ademais,em evitar a fabricao de grandes problemas a partir de casos sobre osquais a Bblia no parece ter comentrio algum a fazer.

    A cronologia de EzequielEzequiel sem igual entre os profetas do Antigo Testamento pela sua seqncia ordeira de datas para muitos dos seus orculos. Estas datas podemser alistadas no seguinte quadro.

    Referncia Evento descrito DatadeEze Data pelo calenq u i e f 6 ddrio JulianoS7

    Dia ms ano Dia ms ano

    1: A chamada de Ezequiel 5 4 30 31 jul 5931: 2 A chamada de Ezequiel 5 (4) 5

    >>

    8: 1 A viso da idolatria em Jerusalm 5 6 6 17 set 59220 1 A delegao dos ancios 10 5 7 9 ago 59124 1 Comea o cerco 10 10 9 15 jan 588

    26 1 Orculo contra Tiro 1 (11) 11 12 fev 58629 1 Orculo contra o Egito 12 10 10 7 jan 58729 17 Do Tiro para o Egito 1 1 27 26 abr 57130 20 0 brao quebrado do Fara 7 1 11 29 abr 58731 1 Orculo contra o Fara 1 3 11 21 jun 58732 1 Lamentao sobre o Fara 1 12 12 3 mar 58532 17 0 Fara no Seol 15 (12) 12 17 mar 58533 21 A cidade caiu 5 10 12 8 jan 585

    (ou melhor)

    (5 10 U ) 19 jan 58640:1 Viso da nova Jerusalm 10 1* 25 28 abr 573

    * lit. no comeo do ano

    56. As datas entre parnteses so aquelas que foram supostas no comentrio onde o TM no explcito, ou onde ocorrem variantes.

    57. Estas datas baseiam-se nas tabelas dadas em R. A. Parker e W. H. Du-

    34

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    36/2

    EZEQUIEL

    Pode-se ver, com base neste grfico que, se descontarmos a coleode orculos contra as naes (25-32), que incorpora nada menos do que

    sete das quatorze datas, as demais datas esto numa ordem exata e lgica.Isto verdade, quer sigamos o TM da notcia da queda de Jerusalm(33:21), quer emendemos o ano duodcimo para o ano undcimo,conforme parece prefervel (seguindo Albrigth, Howie). Das datas nos ca

    ptulos 25-32, duas no fazem meno ao ms (26:1; 32:17), mas o orculo que segue 26:1 pressupe que Jerusalm caiu e, portanto, deve serdatado depois da data citada em 33:21, e a sugesto no sentido de preencher o undcimo ms no parece irrazovel. Isto faz com que o orcu

    lo contra Tiro venha menos do que um ms depois da notcia da quedade Jerusalm ter chegado em Tel Abibe. Os orculos contra o Egito esto em seqncia cronolgica, com a exceo de 29:17 que manifestamente uma explicao posterior encaixada deliberadamente naquela altura da seqncia, e de 32:17, embora se o ms omitido for entendido como sendo o duodcimo, este, tambm, encaixa-se no padro ordeiro.

    O problema que ainda fica a interpretao do trigsimo ano em1:1. Muitos estudiosos apelaram a emendas textuais, sendo que a mais conhecida a de Hemtrich,58 que o emendou para o terceiro ano, e ele foiseguido mais recentemente por C. F. Whitley.59 A sugesto de Bertholet deque deva ser emendado para o dcimo terceiro ano, em que foi seguido

    por Auvray e Steinmann,60 tem relacionamento com sua reformulao doministrio de Ezequiel, de modo que a viso marcasse a inaugurao dosegundo perodo (babilnico), mas foi fortemente refutada tanto por Foh-rer como por Zimmerli. Aqueles que procuraram compreender o texto

    conforme consta tm sugerido: (i) que era o trigsimo ano aps a reformade Josias, i., c. de 591 a.C.; (ii) que era o trigsimo ano da idade de Eze-quiel, idia esta que remonta a Orgenes; (iii) que era o trigsimo ano doexlio de Joaquim, e que a referncia no dizia respeito viso inaugural

    bberstein, Babylonian Chronology,626 a.C. - 75 d.C. (1956), pg. 26. No devemser usadas por demais dogmaticamente, porque tomam por certas questes acercadas quais h mais de uma interpretao. Por exemplo, nffo podemos ter certeza se

    Ezequiel seguiu um calendrio que ia de um outono at ao outono seguinte, ou daprimavera at primavera seguinte. As datas citadas supra supem que se trata deum calendrio primaveril.

    58. Hemtrich, pg. 63.59. C. F. Whitley, The thirtieth year in Ezekiel 1:1 , VT, IX, 1959,

    pgs. 326-330.60. J. Steinmann,Le prophte Ezchiel e t les dbuts de Iexil(1953).

    35

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    37/2

    INTRODUO

    de Ezequiel, mas, sim, data da redao ou compilao final do livrointeiro (assim Beriy,61 Browne,62 Albright,63 e Howie).

    A primeira destas sugestes pode ser descontada porque no h evidncia em prol de qualquer datao semelhante de um evento, por maisimportante que seja, sem referncia especfica ser feita a ele. A menodo reinado do rei Joaquim em 1:2 indica que se o trigsimo ano aps areforma de Josias estava em mira, o redator no percebeu o sentido, e seele no conseguiu entend-lo ficamos duvidando se qualquer leitor contem

    porneo teria sido mais bem sucedido.64Os argumentos em prol da teoria do ano da compilao so atraen

    tes e se encaixam bem com o padro posterior de datas, viz. o vigsimoquinto ano para a viso de 4048, e o vigsimo stimo ano para a prediodo avano de Nabucodonosor contra o Egito aps seu fracasso em Tiro.

    No havendo qualquer ponto de referncia no texto, parece altamenterazovel inferir o mesmo ponto de referncia que aplicado a todas asdemais datas no livro. Os argumentos em prol desta interpretao so bemcolocados na monografia de Howie.6S Do outro lado, exigem uma leverecomposio dos w. 1-3 de Ezequiel 1, e rejeitam o esforo do redator

    para fazer uma harmonizao na sua referncia ao quinto ano de Joaquimem 1:2. Se Howie tiver razo, o redator no poderia ter sido o prprioEzequiel (conforme ele supe), porque a confuso das datas nos w. 1 e2 teria sido demasiadamente aparente para uma compilador inteligente

    permitir. Conforme foi transmitido para ns, 1:2 no pode ser outra coisa seno uma glosa explanatria sobre a dats desvinculada em 1:1 e,alm disto, o problema de 1:1 deve ter sido tio completamente reconhecido pelo redator que nem sequer lhe ocorreu que se referisse compilao dos orculos de Ezequiel no trigsimo ano do exlio de Joaquim. Para oredator, de qualquer maneira (e no podemos chegar mais perto das

    61. JBL,LI, 1932, pg. 55.62. L. E. Browne, Ezekiel and Alexander (1952), pg. 10; mas interpre

    ta o livro inteiro como um comentrio dos fins do sculo IV a.C., sobre as campanhasde Alexandre, e o trigsimo ano datado a partir da sucesso de Artaxerxes III.

    63. JBL,LI, 1932, pg. 96.

    64. A mesma objeo tambm deve ser aplicada a variantes desta teoria,e.g. que era o trigsimo ano da vida de Joaquim (Snaith, ET, LIX, 194748, pgs.315-6); ou do reinado de Manasse's (C. C. Torrey, PseudoEzekiel and the Origi-nal Prophecy (1930), pgs. 634); ou de um perodo do jubileu (S. Fisch, Ezekiel,Soncino Bible,1950, pg. 1).

    65. C. G. Howie, The Date and Composition o f Ezekiel (JBL MonographSeries IV, 1950).

    36

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    38/25

    EZEQUIEL

    fontes do que ele), o trigsimo e o quinto ano do exlio eram o mesmoano.

    Ficamos, portanto, com as seguintes possibilidades: ou que estascifras representam dois sistemas alternativos de datas,66 idia esta queatraiu pouco, ou nenhum, apoio dos especialistas atuais na cronologiavtero-testamentria, ou que o trigsimo ano era o trigsimo ano de Eze-quiel. Muita coisa h que se possa dizer em prol desta ltima idia. Primeiramente, prima faciemais provvel que, quando uma reminiscnciapessoal est sendo registrada na primeira pessoa do singular, qualquerreferncia a um ano especfico, a no ser que haja explicao em contrrio,significaria o ano da idade do escritor. Em segundo lugar, h a evidnciade Gnesis 8:13 no sentido de que esta era uma forma aceitvel de expresso hebraica.67 Em terceiro lugar, h boa razo para se supor queo trigsimo ano da vida de um homem era a idade em que podia assumirtodos os deveres do sacerdcio. Este argumento baseia-se no fato de seresta a situao dos levitas, conforme Nmeros 4:3 e 1 Crnicas 23:3,embora houvesse etapas de treinamento preliminar para a obra, a partir

    do vigsimo68 e do vigsimo quinto ano.69 A evidncia do judasmo posterior mantm um silncio estranho quanto ao assunto da idade da iniciao no sacerdcio, mas trinta anos volta a ocorrer como a idade de plenamaturidde, e no dexia de ter significado o fato de que trinta anos eraa idade de nosso Senhor na ocasio do Seu batismo e do comeo do Seuministrio.70 Se assim for, o significado do seu trigsimo ano, na introduo autobiogrfica de Ezequiel, no passaria desapercebido aos seus leitores, e algo do aspecto pattico das suas esperanas frustradas de servir no

    Templo apareceria. Pode, portanto, ser suposto que foi como compensao pela sua perda de privilgio, por causa do exlio, que o Senhor chamou Ezequiel para o ministrio de profeta e atalaia no quinto ano do reiJoaquim.

    66. Assim Cooke, pgs. 3-4, seguindo Begrich.67. No primeiro dia do primeiro ms, do ano seiscentos e um, as guas se se

    caram de sobre a terra. A referncia vida de No, conforme 7:6 e 7: 11 tomamclaro. Devo esta referncia a S. G. Taylor, Tyndale Bulletin,17,1966, pgs. 119-120.

    68. 1 Cr 23:24 .69. Nm 8:2 4.70. Lc 3:23 .

    37

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    39/2

    INTRODUO

    0 impacto total de um livro freqentemente muito maior do que

    a mensagem pretendida pelo autor, e, da mesma forma, a mensagem queo livro de Ezequiel contribui revelao de Deus nas Escrituras Sagradas muito maior do que as meras palavras de Ezequiel dirigidas a seus com

    panheiros de exlio. Se no tivssemos de lidar com nada mais do que isso,poderamos resumir o ensino de Ezequiel em duas frases: Deus destruire, depois de 587 a.C.,Deus restaurar e reconstruir.Mas para relacionaristo com as necessidades dos homens e das naes hoje, conforme a tarefa da exposio bblica, devemos olhar abaixo da sperfcie, nos princ

    pios subjacentes da natureza de Deus e dos Seus tratos com os homens,que o profeta reconheceu e aplicou, sua maneira, s situaes dos seus

    prprios tempos. O profeta vtero-testamentrio, pois, era essencialmente um intrprete, aplicando o que sabia da natureza e das leis de Deus scondies sociais, polticas e religiosas dos seus dias. A tarefa dele, portanto, era arriscada. Tinha de pesar os fatos e tirar as concluses certas.Tinha de falar com destemor, sabendo que muito provavelmente sofre

    ria oposio ou seria mal entendido. Tinha de falar alto, e de modo memorvel, porque seus problemas de comunicao eram muito maiores do queos nossos hoje. Acima de tudo, tendo poucos precedentes como base, enenhuma Bblia atrs da qual pudesse esconder-se, tinha de ter dupla certeza de que as palavras que falava no eram dele, mas, sim, dAquele que oenviara. E tinha de fazer tudo isto no meio-ambiente das palavras doutroshomens que professavam ser profetas, mas cujos orculos eram uma ladainha sem a autoridade derivada de terem experimentado a palavra de Deus

    dentro de si mesmos.Uma boa parte da linguagem de Ezequiel repeticiosa. Isto s vezes

    toma a leitura enfadonha, mas ajuda a ressaltar seus temas recorrentes.Cinco destes foram escolhidos para serem comentados aqui. Como as estrelas que perfazem uma constelo, so os pontos fixos em derredor dosquais o padro da sua mensagem pode ser construdo.

    a. A Transcendncia de DeusToda profecia comea com o carter do Deus que a inspira. No caso

    de Ezequiel, que foi criado nos crculos sacerdotais em Jerusalm, inevitvel que o aspecto de Deus que ele sentia mais profundamente eraSua santidade. Esta no era uma qualidade moral, embora pudesse mostrar-

    IV. A MENSAGEM DE EZEQUIEL

    38

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    40/2

    EZEQUIEL

    se em aes morais, e fazia assim mesmo (cf. Is 5 :16b). Era uma palavraque expressava relacionamento. O significado da raiz de qdes (santida

    de) estar separado, e assim, ser desligado doutros relacionamentos eusos comuns para cumprir uma funo peculiar, uma que pertence a Deus,o Santo. O Deus de Israel no possua, simplesmente, esta qualidade; Eleera esta qualidade. Tudo quanto tinha ligao com Ele derivava dEle asantidade. Podia, portanto, haver um lugar santo onde Ele era adorado,

    pessoas santas que agiam como Seus ministros, vestes santas que usavam eequipamentos santos que empregavam. Seu nome tambm era santo, Seu

    povo Israel era santo (at quando estava vivendo na injustia), e o lugar

    onde fez Sua habitao era Seu santo monte.A viso do Senhor montado no Seu carro-trono (1-3) tipificava este

    senso de transcendncia e de majestade. Era indizivelmente esplndido,misteriosamente intrincado, sobre-humano e sobrenatural, infinitamentemvel mas nunca preso terra, onividente e onisciente. assim que DeusSe revelou a Ezequiel, no por proposies acerca do Seu carter mas, sim,no encontro pessoal. Os rabinos que insistiam que ningum abaixo da idade de trinta anos deveria ler esta parte do livro de Ezequiel, estavam conscientes de que aqui estavam em terra santa. Ezequiel tinha a mesma conscincia. Como Simo Pedro ao ser confrontado pela capacidade sobrenatural de Jesus (Lc 5:8), somente podia cair com o rosto em terra comomorto. Este foi o contexto da sua comisso para profetizar, e a partir deento, levou consigo, no decorrer da totalidade do seu ministrio, um senso de reverncia e de santo temor. a marca distintiva do profeta verdadeiro em cada gerao. O falso profeta pode tagarelar levianamente acer

    ca de Deus, porque nunca se encontrou com Ele. O homem de Deus sai daSua presena indelevelmente marcado com a glria do seu Senhor.Ezequiel deve ter sabido que o Deus de Israel era o Deus do mundo

    inteiro, como seu Criador e Sustentador. Suas tradies sacerdotais ensinaram-no, decerto, que Ele era o Deus de todas as naes, e o Juiz delas. Mas, mesmo assim, deve ter sido um grande consolo para ele, e paraos exilados, saber que este Deus, cuja habitao ficava no monte Sio podia aparecer-lhes ao lado do rio Quebar, em meio de todo o paganismo

    e idolatria srdidos da vida babilnica. Se qualquer israelita sentisse queestava separado do seu Deus, bem como do seu Templo (cf. SI 137:4), esta teofania na Babilnia poderia ser entendida como sinal de que Deusainda Se importava com o Seu povo, mesmo no castigo do exlio.

    39

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    41/2

    INTRODUO

    b. A pecaminosidade de IsraelEzequiel foi confrontado com reaes conflitantes s desgraas re

    centes da nao. Alguns achavam que o castigo devido pela sua desobedincia j fora esgotado pelos eventos de 597 a.C., e que nada restava afazer seno esperar a repatriao. Outros adotavam a linha fatalista e seconsideravam os herdeiros infelizes dos pecados dos seus antepassados

    pelos quais um Deus injusto agora os castigava. A maioria sentia certa medida de segurana nisto: como eram o povo do prprio Jav, Ele nunca

    poderia castig-los por demais drasticamente sem desprestigiar-Se aos olhosdos pagos. Uns poucos achavam que Jav j tinha ficado humilhado, e

    fora demonstrado incapaz diante dos deuses da Babilnia. O modo doprofeta tratar destes pontos de vista, conforme demonstrado no comentrio sobre os captulos 12-24, revela que competente e disposto a en-contrar-se com seus ouvintes no terreno deles e a respoder s objeesque levantam. Na maior parte, no entanto, seu alvo convencer o povoda sua total indignidade de qualquer considerao da parte de Deus, a fimde lev-lo pelo caminho da vergonha at chegarem ao verdadeiro arrependimento.

    Faz isto de duas maneiras: a geral e a especfica. No primeiro caso,emprega a alegoria para descrever historicamente a histria da persistenteinfidelidade de Israel aliana graciosa de Deus. Trs passagens tratam disto: 16:1-63; 20:1-31 e 23:1 49. Cada uma delas esquematiza o passadode um modo levemente diferente. A parbola da enjeitada (16:1-63) comea com Israel, ou talvez Jerusalm, como uma enjeitada desatraente (arevolver-te no teu sangue), mas quando ficou moa e chegou idade dos

    amores, o Senhor entrou em aliana com ela, purificou-a e embelezou-a, edeu a ela generosamente riquezas e honrarias de rainha. Como paga por isto, Israel, confiando na sua beleza, prostituiu-se com estrangeiros e desprezou seu Benfeitor divino. O captulo 20 v a histria de Israel como umciclo de atos desobedientes, cada um dos quais foi seguido por uma deciso graciosa da parte de Deus n sentido de no castigar mas, sim, de reter a Sua mo. notvel aqui a frase repetida: O que fiz, porm, foi poramor do meu nome, para que no fosse profanado diante das naes, no

    meio das quais eles estavam (20:9, 14, 22). A ao de Deus em revelar-Se a Israel, em fazer uma aliana com ele, e at mesmo em disciplin-lo,foi inicialmente para seu benefcio (a fim de que soubessem que eu souo SENHOR, etc.; 20:12, 20, 26), mas em ltima anlise Seus tratoscom Israel olhavam alm dos prprios interesses daquela nao para apreocupao no sentido de o nome de Deus ser conhecido e respeitado

    40

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    42/2

    EZEQUIEL

    pelo mundo inteiro. Esta era uma doutrina que colocava o orgulho deIsrael na sua eleio firmemente no seu lugar adequado. Finalmente,

    a alegoria das duas irms (23: 149) desconsidera at mesmo a possibilidade da inocncia original de Israel. Ool e Oolib prostituram-se no Egito na sua mocidade. Dificilmente poderiam ser descritas como mulheres cadas, porque nunca estiveram noutro lugar seno no esgoto. Suanica caracterstica era um apetite insacivel pela fornicao, e o castigo delas seria completo de modo correspondente.

    A inteno destes panoramas histricos era envergonhar e horrorizar. Se os estudiosos tm razo em supor que um aspecto regular do

    culto israelita era uma recitao litrgjca das tradies sagradas do passado, as obras maravilhosas (niplt) do Saltrio, ento Ezequiel poderia quase ser acusado de parodi-las com as distores monstruosasque fazia. Mas quanto mais de perto eram examinadas, tanto mais evidente apareceria que no eram, na realidade, to distorcidas como algumas pessoas talvez pensassem. A verso que nosso Senhor deu da histria

    judaica no era mais distorcida, e Seus ouvintes reconheciam que era des-

    confortavelmente leal aos fatos (Lc 20:9-19).Mais especificamente, Ezequiel cita no captulo 8 os delitos que, segundo ele sabia, estavam sendo praticados no Templo. Tratava-se, naturalmente, de desvios religiosos, e incluam a idolatria descarada, a adorao aos animais, a adorao natureza, e a adorao ao sol. Emboraalguns aspectos da sua descrio sugiram que estes possam ter sido episdios mais tpicos do que concretos, no deixaram de ilustrar o grau desincretismo que estava afetando a adorao a Deus em Jerusalm. Cons

    tituam-se, tambm, em justificativa abundante para a deciso de Deus nosentido de castigar o povo de Jerusalm com uma matana que relembrariaa praga na ocasio da Pscoa (9: 5-6) e de chover destruio sobre a cidadecomo nos dias de Sodoma e Gomorra (10:2). Tanto aqui quanto nos trs

    panoramas do passado, os pecados de Israel tm sido principalmente pecados religiosos. O povo tem sido idlatra, fez alianas e se prostituiu com

    potncias estrangeiras (e isto envolvia a subservincia religiosa tambm,conforme vimos), de modo que no cumpriu suas responsabilidades segundo a aliana, no observou as ordenanas e os juzos que o Senhor lhedeu no Sinai (5:6-7). Numa palavra, profanara o nome santo de Deus(20:9; 37:20-23); e, porque para Ezequiel Deus era a santidade, este erao pecado mais horrendo. Em comparao com isto, os pecados sociais queAms atacara dois sculos antes quase nem so mencionados.

    41

  • 5/20/2018 209666534 Ezequiel Introducao e Comentario PDF

    43/2

    INTRODUO

    c. O fato do julgamentoEsta no era nenhuma doutrina nova para um profeta vtero-testa-

    mentrio. Mensagens de julgamento tinham sido a produo regular dos

    profetas j havia muitos anos. Mas este prprio fato tomou mais difcil a tarefa de Ezequiel. Havia muita diferena entre ameaas de julgamento e uma mensagem de que o julgamento era iminente. Foi por issoque Ezequiel sentia to agudamente sua responsabilidade de agir comoatalaia nacional para Israel, a fim de adverti-lo quanto desgraa que estava para desabar sobre ele. A mensagem de Deus para Israel era queo Deus que falava tambm agiria: Eu, o SENHOR, o disse, e o farei

    (17:24; 22:14; 24:14; 36:36; 37:14). Deus pronunciara a palavra dojulgamento, e os homens j no podiam desconsider-la, dando de ombros, com a desculpa de que, embora os profetas tivessem ameaado, nada acontecera at ento (12:22), ou que tudo se referia ao futuro distante (12:27). A palavra de Deus agora era: A palavra que falei se cumprir (12:28).

    d. A responsabilidade individualVon Rad71 indicou que a posio de Ezequiel como atalaia era qua

    se contraditria, visto que Jav que no somente ameaa a Israel comotambm, ao mesmo tempo, deseja adverti-lo a fim de que seja salvo. A

    possibilidade da salvao de um remanescente freqentemente oferecida, mesmo nas predies da destruio (e.g. 5:3,10; 6:8;9:4), e a