Guiaodecampopeniche 2016

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Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geociências” (3.ª Edição) Peniche, 03 e 04 junho 2016 Associação Portuguesa de Geólogos A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências Guião de Campo Organização Apoio

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"A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências" - Guião de Campo (2016)

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Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geociências” (3.ª Edição) Peniche, 03 e 04 junho 2016 Associação Portuguesa de Geólogos

A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências

Guião de Campo

Organização Apoio

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ficha técnica

TÍTULO

A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências

AUTORES

José Romão Universidade Europeia

Laboratório Nacional de Energia e Geologia

Mónica Sousa Associação Portuguesa de Geólogos

EDIÇÃO Associação Portuguesa de Geólogos

DESIGN

Andreia Figueiredo Carlos Amaral

junho de 2016

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A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências

Guião de Campo

Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geociências” (3.ª Edição) Peniche, 03 e 04 junho 2016 Associação Portuguesa de GeólogosOrganização Apoio

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Introdução

Região de Peniche: um laboratório no campo

A idade das rochas

Como se pode estimar a idade de uma rocha?

Mas como podemos atribuir uma idade absoluta às rochas?

Que minerais se podem datar?

A Região de Peniche

Enquadramento geológico

O ciclo geológico e a geohistória da região

de Peniche

Locais de interesse geológico a visitar: lugares e

geomonumentos

1. Horst do arquipélago das Berlengas: planalto de

granito rosa da Berlenga e os picos metamórficos dos

Farilhões

2. Campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios

3. Registo sedimentar da Ponta do Trovão com idade de

183 milhões de anos

4. Erupção vulcânica da Papoa

5. Monoclinal e tômbolo do Baleal

6. Gruta da Furninha

Conclusões

Referências bibliográficas

Glossário

Anexo

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ÍNDICE

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INTRODUÇÃO

Fig. 1 – Comparação entre marcas de ondulação de correntes geradas no litoral atual (Peniche) e as preservadas num estrato de quartzitos que integra a Formação do Quartzito Armoricano, do Ordovícico inferior (Mação).

As aulas de campo para todos os tipos de ensino devem contemplar procedimentos relativos à visua-lização de formas da paisagem e de afloramentos com explanações sobre as suas próprias característi-cas quanto à natureza e estrutura, para se estabelecer processos que geram atualmente essas mesmas mor-fologias e originaram no passado outras que, entre-tanto, foram erosionadas. De facto, por maior que seja o esforço de contextualizar formas e processos geoló-gicos, por mais riqueza de imagens e recursos visuais que se utilize, é imprescindível que a docência em Ciências Geológicas tenha prática de campo, dado que possibilita correlacionar teoria (processos geoló-gicos) e realidade (formas do relevo, tipos de rochas e de fósseis, etc.). Esta metodologia rompe com as limi-tações habituais em ambiente de sala de aula, sendo o espaço enriquecido com a realidade, que é propor-cionada pela observação das dimensões e escalas reais dos objetos espaciais, designados de afloramen-tos, e incorporação dos processos que os originaram.

Por outro lado, a observação direta dos processos geológicos que estão agora a ocorrer ao longo do litoral de Peniche, em particular os de natureza se-dimentar e erosiva, permite explicar pelos mesmos processos os registos geológicos que se sucederam

num passado distante. De facto, este raciocínio tem por base de que os fenómenos geológicos que es-tão a acontecer presentemente são idênticos aos que ocorreram no passado, ou seja, “o presente é a chave para entender o passado” (James Huton, 1726-1797). Estas asserções integram os princípios fun-damentais da Teoria do Uniformitarismo, tam-bém designada do Atualismo ou das Causas Atuais.

As marcas de oscilação das ondas do mar que podem ser observadas nas praias atuais (Fig. 1), em particular aquando da maré vazia, constituem um bom exemplo do registo de um fenómeno geológico que está a ocorrer presentemente. Porém, estas mar-cas são também detetadas em sucessões passadas, nomeadamente no topo de estratos quartzíticos pa-leozoicos, donde se pode deduzir que a sua génese deve estar relacionada com um tipo de fenómeno muito semelhante ao que as origina nas praias atuais.

Este Guia de Campo pretende constituir um ele-mento de consulta e apoio para os professores duran-te a preparação e realização de visitas de estudo ao li-toral da Região de Peniche. O Guia será ainda relevante para a exploração dos conteúdos abordados, em con-texto de pré- e pós-visita, em ambiente de sala de aula.

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A paisagem litoral que se observa ao longo da re-cortada costa da região de Peniche é de uma monu-mental beleza estética e elevada singularidade, onde se destaca a península de Peniche, que inclui no seu extremo ocidental, o Cabo Carvoeiro. No litoral norte desenvolveram-se as penínsulas do Baleal e da Papoa, que constituem extensões lineares de rochas nortea-das, ambas de menor dimensão que a península de Peniche. Ainda mais a ocidente, em pleno oceano Atlântico, localiza-se o Arquipélago das Berlengas.

Esta espetacular e singular paisagem, constituí-da por enorme variedade de elementos geológicos e formas geomorfológicas, resultou da atuação dos agentes erosivos sobre estratos rochosos sedimen-tares e rochas, eruptivas e metamórficas, que foram originadas em distintos ambientes por diferentes processos geológicos. A tectónica, quer à escala da geodinâmica das placas, quer dos deslocamentos dos afloramentos, desempenhou também impor-tante papel na modelação da morfologia atual da região, condicionando os ambientes geológicos antigos, sendo ainda responsável pela ocorrência dos movimentos mais recentes. É esta variedade de ambientes e processos de natureza geológica que vai originar na região a diversidade de formas morfológicas, de rochas/minerais, de fósseis, de es-truturas sedimentares e tectónicas, entre outros as-petos, que testemunham a história da Terra e são o suporte da vida no nosso planeta - geodiversidade (Gray, 2004).Ao caminhar pela costa de Peniche ob-servam-se sítios, estruturas ou objetos geológicos, bem delimitados geograficamente que, pela sua favorável localização, conteúdo, peculiaridade ou mesmo raridade, apresentam elevado valor cientí-fico, educativo, cultural, paisagístico e geoturístico. Estes sítios, afloramentos ou paisagens, constituem importantes georrecursos não renováveis e desig-nam-se, na generalidade, como Locais de Interesse Geológico (LIGs) ou geossítios (Duque et al., 1983; Elizaga, 1988; Brilha, 2005). Quando apresentam

elevada singularidade e interesse didático ou mo-numentalidade natural são considerados como geomonumentos (Carvalho, 1998; Brilha, 2005).

Considerando a significativa diversidade geológi-ca da região de Peniche, esta pode ser considerada um verdadeiro laboratório natural para as ciências geológicas. De facto, a observação no campo de for-mas, estruturas e características permite reconhecer processos que possibilitam a formulação de hipóte-ses para a sua génese. O campo é assim entendido como um laboratório natural composto por distintas formas de relevo, cujas histórias podem ser interpre-tadas pela conjugação de conhecimentos relativos aos processos, às componentes estruturais, à localiza-ção geográfica e ao tempo de exposição das rochas.

Os principais locais com afloramentos de interes-se pedagógico, didático e científico no litoral de Pe-niche correspondem ao:

• Horst do arquipélago das Berlengas: planalto de granito rosa da Berlenga e os picos metamórficos dos Farilhões,

• Campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios: formas zoomórficas e labirínticas,

• Registo sedimentar da Ponta do Trovão com a idade de 183 milhões de anos,

• Erupção vulcânica da Papoa,

• Monoclinal e tômbolo do Baleal,

• Gruta da Furninha.

Atendendo à diversidade paisagística, às espe-cificidades dos locais e afloramentos focados e aos processos geológicos que podem ser evidenciados detalhadamente, considera-se que a região de Pe-niche é um verdadeiro laboratório natural para o estudo das geociências. De facto, apresenta um in-questionável valor científico, para além do elevado interesse pedagógico e didático, como é confirma-do pelo número crescente de atividades ligadas a todos os graus de ensino que aí são concretizadas.

REGIÃO DE PENICHE:UM LABORATÓRIO NO CAMPO

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COMO SE PODE ESTIMAR A IDADE DE UMA ROCHA?

A determinação da idade das rochas pode ser efetuada através de diversas metodologias que têm como fim indicar a sua idade relativa ou ab-soluta.

A análise das relações espaciais de contac-to de um conjunto de rochas que ocorrem num determinado afloramento ou local permite esta-belecer uma hierarquia sequencial de idade rela-tiva para as rochas do referido conjunto, ou seja, permite identificar de forma qualitativa a relação tem-poral entre rochas mais recentes e mais antigas (Fig. 2). Partindo do princípio que, não havendo perturbações, as camadas se depositam na horizontal, então pode deduzir-se que sempre que elas não se dispõem na horizontal, qualquer que seja o desvio desta posição, deve ser interpretado como resultado de fenómenos posteriores à sua formação. Na maioria dos casos, a modificação resulta da atuação de movimentos tec-

tónicos (posteriores) que as bascularam ou dobraram – Princípio da Horizontalidade Inicial. Se, por exemplo, estivermos perante uma sucessão sedimen-tar, que não tenha sofrido modificações desde a sua deposição, conclui-se que as camadas mais recentes se encontram por cima das mais antigas – Princípio da Sobreposição de Nicholas Steno (1638 – 1686). Se, por outro lado, se observar um corpo geológico a intersectar uma determinada rocha ou camada, pode afirmar-se que esse corpo é posterior ao material que está a ser interrompido – Princípio da Intersec-ção. Este tipo de análise geométrica pode também ser aplicado na observação das relações estruturais

dentro das próprias rochas. Assim, uma unidade geo-

lógica será posterior a outra se contiver fragmen-

tos dela no seu interior - Princípio da Inclusão.

Alguns fósseis são também utilizados para atri-buir uma idade às rochas, sendo por isso muitas vezes designados por “marcadores do tempo”, ou seja, permitem reconhecer e individualizar de-terminados conjuntos de estratos e relacioná-los

A IDADE DAS ROCHAS

Fig. 2 - Relações geométricas entre unidades geológicas.

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com outros com o mesmo conteúdo fossilífero –

Princípio da Identidade Paleontológica. Es-tes fósseis designam-se por fósseis de idade ou fósseis característicos e representam organismos de curta longevidade, mas que tiveram uma am-pla distribuição geográfica e uma rápida evolução.

MAS COMO PODEMOS ATRIBUIR UMA IDADE ABSOLUTA ÀS ROCHAS?

A descoberta da radioatividade no século XIX possibilitou aos geólogos calcular a idade exata ou absoluta de uma rocha, ou seja, permitiu saber quan-do essa rocha se originou e assim contribuir para a reconstituição mais precisa da história geológica de uma determinada região. São vários os elemen-tos radioativos, também designados por isótopos, que podem ser utilizados na datação das rochas, dependendo do seu tempo (taxa) de decaimento, ou seja, do tempo que leva a desintegrar o seu nú-cleo. A grande maioria dos isótopos radioativos tem taxas de decaimento rápidas, isto é, perdem a sua radioatividade em poucos anos ou mesmo em pou-cos dias. Porém, para a datação radiométrica das ro-chas é necessário utilizar isótopos radioativos que tenham uma meia-vida longa, ou seja, que o tempo necessário para que se desintegre metade dos seus núcleos seja lento. É o caso, por exemplo, do urânio (238U) que decai para chumbo (206Pb) com um tem-po de meia-vida de cerca de 4,47 x 109 anos ou do rubídio (87Rb) que decai para estrôncio (86Sr) com um tempo de meia-vida de cerca de 48,8 x 109 anos.

Os isótopos descritos foram utilizados para deter-minar a idade do granito das Berlengas. Na década de 60 foi publicada a primeira idade radiométrica do granito da Berlenga, a partir de uma amostra colhida na Berlenga Grande; de facto, a idade estimada foi de cerca de 280 milhões de anos, obtida pelo método 87Rb/86Sr a partir de rocha total (Priem et al., 1965). Mais

tarde, Valverde et al. (2010) consideraram que o mes-mo corpo granítico solidificou há cerca de 307 milhões de anos, utilizando o método 235U/207Pb. Os mesmos geocronólogos estimaram ainda através de idêntica metodologia que a idade do pico do metamorfismo térmico das rochas mais antigas, que constituem os Farilhões e as Forcadas (micaxistos, paragnaisses e migmatitos), é de cerca de 377 milhões de anos, e que a intrusão das apófises graníticas nestas rochas ocor-reu há cerca de 483 milhões de anos. Se comparamos as idades verificamos que são diferentes, sendo mais precisa a determinação mais recente, dado que no método 87Rb/86Sr as concentrações de rubídio e es-trôncio nos minerais não são homogéneas, tendo-se estimado a idade através de concentrações médias da rocha total. Na estimativa da idade 235U/207Pb foram utilizadas as concentrações de chumbo que se en-contram atualmente nos minerais zircão e monazite.

QUE MINERAIS SE PODEM DATAR?

Dependendo do tipo de rocha que se pretende datar e do método a utilizar são selecionados mi-nerais que irão permitir determinar a sua idade e, consequentemente, a idade da rocha onde estão inseridos. Os minerais mais comuns utilizados em Geocronologia são o zircão, a monazite, a mosco-vite, a biotite, a horneblenda, a microclina, a grana-da, entre outros. De todos estes minerais, o zircão é considerado como um dos melhores geocronó-metros, cuja idade é determinada pelo decaimen-to dos isótopos de urânio para chumbo (Fig. 3).

Porém, no processo de datação das rochas há que ter alguns cuidados relativamente à organiza-ção interna dos cristais que integram os minerais. De facto, para compreender a história dos minerais, registada na estrutura interna dos seus cristais, é necessário utilizar técnicas de imagiologia por ca-todoluminescência para interpretar todos os seus ciclos de crescimento e de erosão. Só após a análi-se detalhada do zonamento dos cristais é que se

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deve avançar para a sua efetiva datação, de forma a não desordenar eventos cronológicos distintos. Por exemplo, os zircões complexos são compostos por estruturas zonadas, que resultaram da adição

Fig. 3 - Grão de zircão de um metagrauvaque analisado por SHRIMP – Sensitive High Resolution Ion Microprobe (imagem obtida através de eletrões retrodifundidos; Böhm et al. 2003).

genética de mais zircão durante vários ciclos, razão pela qual é necessário distinguir as idades conside-radas herdadas das idades que efetivamente repre-sentam a fase de cristalização do magma parental.

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ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

A região de Peniche integra, do ponto de vis-ta geológico, a Orla Meso-Cenozóica Ocidental de Portugal (Fig. 4). Destacam-se, ainda, na re-gião fragmentos do maciço antigo que cons-tituem o arquipélago das Berlengas, localiza-dos a ocidente da península de Peniche (Fig. 5).

Nas Estelas e Berlenga, ilhas do arquipélago das

Berlengas, afloram principalmente rochas graníti-

cas deformadas, na generalidade de cor rosa, com

granularidade média e, mais ocasionalmente, fina.

Datações 235U/207Pb dos seus minerais constituintes

(monazite e zircão) indicaram que a sua intrusão

ocorreu à cerca de 307 milhões de anos (Valverde

et al., 2010). Ainda mais antigas são as rochas me-tamórficas com relíquias granulíticas (micaxistos, paragnaisses e migmatitos) que constituem os Fari-

lhões e as Forcadas, localizadas a NW da ilha da Ber-lenga, cuja evolução tectonometamórfica se iniciou com condições de pressão e temperatura da crus-ta média (Telmo et al., 2010). Idades 235U/207Pb para estas rochas sugerem que suportaram um pico tér-mico aos cerca de 377 milhões de anos (monazite) e a intrusão de apófises graníticas com zircões aos cerca de 483 milhões de anos (Valverde et al., 2010).

Na região continental afloram, na generalidade, sucessões carbonatadas do Jurássico Inferior (penín-sula de Peniche) a Médio (Baleal) e areno-argilosas do Jurássico superior (Pedras Muitas), sobre as quais assentam discordantemente depósitos aluvionares, areias de praia e dunas de idade holocénica (Fig. 6).

A ocidente do antigo Maciço Ibérico desenvolveu--se uma extensa bacia sedimentar marginal, cuja evo-

Fig. 4 – Esboço geológico da região de Peniche enquadrado no mapa geológico de Portugal na escala 1: 1 000 000 editado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

9’’23’ 9’’19’

9’’23’ 9’’19’

Peniche

39’’21’

39’’22’

39’’21’

CaboCarvoeiro

Papoa

Baleal

Peniche

500m

Quaternário

Jurássico Inferior

Depósitos de aluviões, dunas e areias de praia

Calcários cristalinos, margas e calcarenitos

Falha Falhaprovável

Jurássico Médio

Calcários com margas

Jurássico Superior

Formações areno--argilosas continentais

Tufo-brecha da Papoa

A REGIÃO DE PENICHE

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Fig. 5 – Localização dos principais lugares e geomonumentos com interesse científico, didático e pedagógico na região de Peniche.

Porto

Coimbra

Peniche

Lisboa

0 100km

Península de Peniche e Baleal

Baleal

Peniche

Consolação

Gruta daFurninha

CaboCarvoeiro

Remédios

Mirador de Frei João

Ponta do Trovão

Papoa

Ilhéu das Pombas

Ilhéu deFora

Geomonumentos

Falhas Geológicas

Monoclinal do Baleal

Campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios

Tufo-brecha da Papoa

Tômbolos de Peniche e do Baleal

Unidades sedimentares

Granito róseo das Berlengas

Rochas metamórficas dos Farilhões 0 2km

Arquipélago dasBerlengas

BerlengaEstelas

FarilhõesFarilhãoGrande

As Forcadas

EstalãoCarreiro dos

CaçõesCerro da

Velha

Carreiro daInês

FuradoCova do Sonho

Cabeça do Elefante0 500m

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Fig. 6 – Coluna estratigráfica da região de Peniche – Caldas da Rainha. 1 – Granito das Berlengas (Paleozóico); 2 – Rochas metamórficas dos Farilhões e Forcadas (Neoproterozóico ou Paleozóico); 3 – Jurássico Inferior (arenitos e argilas vermelhas); 4 – Jurássico Inferior (margas e calcarenitos do Cabo Carvoeiro); 5 – Jurássico Médio (calcários e margas interestratificados); 6 – Jurássico Superior, a – calcarenitos, b – argilas, c – arenitos d – arenitos e areias continentais; 7 – Cretácico, a – arenitos e b – arenitos e argilas; 8 – Miocénico; 9 – Quaternário; 10 – Discordâncias.

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lução meso-cenozóica está estreitamente associada com o estiramento da crusta e consequente fragmen-tação do supercontinente Pangea, seguida da aber-tura do oceano Atlântico. Esta bacia sedimentar foi preenchida, no início do Mesozóico até à atualidade, pela acumulação alternada de sedimentos terríge-nos e químicos, que se podem observar, em particu-lar, ao longo do litoral da costa ocidental de Portugal.

O registo sedimentar da região de Peniche é caracterizado por conjuntos de sucessões de es-tratos com composição, forma, estrutura e dispo-sição diferenciadas, cujo substrato é o maciço an-tigo. Este é constituído por litótipos rochosos de natureza metamórfica e eruptiva, que afloram no Arquipélago das Berlengas. Todos estes elementos de natureza geológica, que estão a condicionar a paisagem atual, constituem testemunhos essen-ciais para a reconstituição da geohistória da região.

O CICLO GEOLÓGICO E A GEOHISTÓRIA DA REGIÃO DE PENICHE

Os litótipos sedimentares mais antigos (~220 mi-lhões de anos), originados a partir de sedimentos de-positados no fundo do mar, contêm no seu interior elementos erosionados de antigas cadeias monta-nhosas emersas no Maciço Ibérico. Evidências atuais destas antigas montanhas afloram no horst do arqui-pélago das Berlengas, nomeadamente rochas erupti-vas ou magmáticas na Berlenga e rochas metamórfi-cas nos Farilhões e Forcadas (Fig. 5). Por outro lado, as sucessões sedimentares cada vez mais recentes pre-servam no seu interior testemunhos que resultaram da erosão de sequências anteriores, nomeadamente litótipos e fósseis de camadas continentais ou mari-nhas mais antigas; estas foram erosionadas e poste-riormente depositadas em sucessões mais recentes.

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Há cerca de 190 milhões de anos depositaram-se nesta bacia sedimentos finos carbonatados, por ve-zes com abundante matéria orgânica, em ambiente marinho de águas quentes relativamente profundas. A profundidade da bacia vai progressivamente di-minuindo, como consequência do preenchimento da bacia por sedimentos provenientes da erosão de terras emersas e do abaixamento generalizado do nível das águas do mar que se verificou à escala do globo no fim do Jurássico (~150 milhões de anos). Nestas circunstâncias, o ambiente de deposição pas-sou, sucessivamente, a marinho menos profundo, recifal, laguno-marinho, fluvial e lacustre (Baleal).

Há cerca de 145 milhões de anos iniciou-se a abertura do golfo da Biscaia, que induziu a rota-ção da Península Ibérica. Consequentemente, o território português movimenta-se para latitudes mais baixas do que as atuais, onde o clima era mais quente e húmido. Concomitantemente, ocorreram oscilações do nível das águas do mar à escala do planeta. Estas modificações vão induzir variações acentuadas nos ambientes de deposição, registan-do sucessivamente passagens de ambiente marinho a fluvial. É de salientar que os depósitos de nature-za fluvial contêm, por vezes, vegetais fossilizados e materiais provenientes de áreas subaéreas, onde as rochas do maciço antigo afloravam, nomeada-mente granitos, xistos, quartzitos, entre outras.

No final da Era mesozoica (~65 milhões de anos),

junto à fronteira entre o Cretácico e o Cenozoico

(K/T), iniciou-se a abertura do Atlântico Norte atra-

vés da relocalização da crista média oceânica por

migração espacial do rift e, consequentemente, ter-

mina a abertura do Golfo da Biscaia. Esta evolução

tectónica produziu adelgaçamento da margem con-

tinental ibérica e alterações no campo de tensões,

o que originou fracturação a grande profundidade.

Ao longo de uma destas falhas com direção NNW-

-SSE ocorreram as intrusões dos maciços subvul-cânicos de Sintra, Sines e Monchique e numerosos episódios vulcânicos (Papoa, Leiria, Nazaré, entre ou-tros). Contudo, a fronteira K/T (65 milhões de anos) é mundialmente famosa por ter sido um período de tempo marcado pela extinção em massa de cerca de 50% das espécies da Terra, em particular dos dinos-sauros, tendo sido descobertos indícios em vários locais do planeta de que esta catástrofe global po-derá ter sido causada por impacto de um meteori-to de dimensões quilométricas (Alvarez et al, 1980).

Nos tempos subsequentes (Era cenozoica) ocor-reu o rápido arrefecimento do planeta e o desenvolvi-mento dos mamíferos em número e espécies. O clima mudou na generalidade de tropical para glacial, alte-rando-se em particular grande parte da paisagem do hemisfério norte; formaram-se as atuais cadeias mon-tanhosas que resultaram da colisão entre as placas Euroasiática e Africana e, nas zonas marginais à coli-

são, desenvolveram-se sistemas do tipo horst-graben.

Estas alterações à escala do planeta tiveram con-sequências na região de Peniche, dado que houve modificações acentuadas no relevo (levantamento da serra de Montejunto) e na linha da costa (forma-ção da Lagoa de Óbidos), bem como a formação de depósitos continentais que resultaram da erosão do maciço antigo, que estão preservados em depres-sões (Bolhos, Óbidos e Olho Marinho, entre outras).

Nos últimos 1,8 milhões de anos (Quaternário) o planeta esteve mais frio, em média, do que durante grande parte da sua história. Este período foi mar-cado por diversas glaciações e interglaciações; de facto, ocorreram diversas oscilações do nível das águas do mar que são testemunhadas, em particu-lar, pelo posicionamento de terraços de areias mari-nhas a altitudes diferenciadas próximos do litoral da região, nomeadamente no Cabo Carvoeiro, na gruta da Furninha, na Atouguia da Baleia, entre outros.

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LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO A VISITAR:LUGARES E GEOMONUMENTOSAo longo do litoral de Peniche ocorrem numerosos exemplos de lugares singulares com interesse geológico e paisagístico que ocupam áreas espaciais consideráveis, nomeadamente a península do Baleal, a paisagem cársica do Cabo Carvoeiro-Remédios e o arquipélago das Berlengas. Entre os geossítios de características únicas com valor científico, didático e pedagógico destacam-se a erupção vulcânica da Papoa, o registo sedi-mentar da Ponta do Trovão e a gruta da Furninha (Fig. 5).

Descrição: O arquipélago das Berlengas localiza-se a cerca de 10km a W da península de Peniche em pleno oceano (Fig. 5). É formado por três grupos de pequenas ilhas e rochedos: o maior e único com ocu-pação humana é a Berlenga (39º24´56´´N; 9º30´37´´W), a cerca de 1,7km a oeste encontram-se as Estelas (39º25´19´´N; 9º31´59´´W) e 6,5km a NNW os Farilhões e as Forcadas (39º28´45´´N; 9º32´43´´W).

ravelmente abaixo do nível das águas do mar. As Estelas avistam-se das Berlengas e constituem um conjunto numeroso de ilhéus de reduzida dimensão, no geral, com formas piramidais, sendo os maiores designados por Estela e Estalão. Este último rochedo aparenta possuir um tipo de erosão caracterizado por uma forma acastelada com diaclases ortogo-nais, designado de borrageiro. Entre os ilhéus com maior expressão existe uma grande quantidade de recifes e escolhos nas suas imediações, indicando que outrora constituíam um único afloramento, ten-do a erosão desagregado a rocha que os interligava.

A Estela e o Estalão são cortados por um gran-de número de descontinuidades paralelas umas às outras, dispostas quase na vertical e com reduzido espaçamento entre si, parecendo livros inclinados

1. HORST DO ARQUIPÉLAGO DAS BERLENGAS: PLANALTO DE GRANITO ROSA DA BERLENGA E OS PICOS METAMÓRFICOS DOS FARILHÕES

A observação do arquipélago à distância (Fig. 7), a partir da zona dos Remédios na península de Peniche, indica que a ilha da Berlenga consti-tui um planalto de cor rosada relativamente arre-dondado e com topo plano, enquanto os ilhéus Farilhões e Forcadas são rochedos íngremes e inóspitos, com escarpas subverticais, cujos cumes são pontiagudos. As Estelas não são visíveis, en-contram-se encobertas pela ilha das Berlengas.

Mais detalhadamente, a ilha da Berlenga apre-senta a forma de oito com o eixo maior orientado na direção SW-NE (Daveau, 1884) e uma linha de costa muito recortada onde sobressaem enseadas, grutas, arcos, carreiros, pequenos ilhéus e roche-dos. Os Farilhões e Forcadas correspondem a picos de uma montanha submarina, que alarga conside-

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numa estante, como no bem conhecido monu-mento natural designado por “Livrarias do Monde-go”, que se localiza junto à povoação de Penacova.

A Estela é atravessada de lado a lado por um tú-nel com cerca de 6m de largura, composto por pa-redes planas quase verticais que se desenvolveu ao nível das águas do mar, designado por “A por-ta da Estela”. Aparenta um antigo templo egípcio na imensidão do mar quando se vem da Berlenga e pode ser percorrido por um bote na maré baixa.

A dissemelhança acentuada da paisagem mor-fológica entre a Berlenga e os Farilhões e Forcadas sugere que a natureza dos litótipos rochosos que as constituem é muito distinta e que as suas formas atuais resultaram de um processo de erosão diferen-cial, onde a resistência das rochas ao desgaste de-sempenhou um papel fundamental. De facto, a Ber-lenga é um corpo granítico de cor rosa e os Farilhões e Forcadas são compostos por rochas metamórficas bandadas (paragnaisses, ortognaisses e micaxistos) fortemente deformadas e dobradas, organizando--se em estruturas, no geral quase verticais. As rochas metamórficas mais ricas em quartzo constituem re-levos de dureza e são mais resistentes ao desgaste do que os granitos da Berlenga e as faixas metamór-ficas mais brandas, compostas por micaxistos, dos Farilhões e Forcadas. Como consequência do efeito da modelação erosiva, a morfologia das Berlengas constitui, no seu todo, um planalto sobrelevado

dada a sua homogeneidade e os Farilhões e Forca-das, marcados por forte heterogeneidade litológica, constituem relevos acidentados com cumes pontia-gudos entre os quais se desenvolveram vales, muito estreitos e com reduzida expressão, onde afloram as rochas metamórficas menos resistentes, nomea-damente os micaxistos. Por outro lado, os litótipos rochosos que fazem parte das unidades geológicas aflorantes no Arquipélago das Berlengas são muito diferentes dos estratos quase horizontais de natu-reza sedimentar (calco-detrítica) bem mais recen-tes (Mesozoico) que ocorrem na região de Peniche e, em particular, no Cabo Carvoeiro. De facto, for-mações geológicas com litótipos e idades similares aos destas ilhas só afloram a muitos quilómetros de distância, da qual se destacam o granito rosa do Gerês ou, eventualmente, as rochas metamórficas al-tamente deformadas situadas na região de Abrantes – Tomar, que integram o Maciço Antigo ou Ibérico.

Outra diferença significativa entre a morfologia do arquipélago e a da península de Peniche é a alti-tude. Nas ilhas as cotas máximas encontram-se a 92 e 94m, respetivamente na Berlenga e nos Farilhões, marcando uma superfície de aplanação erosiva pró-xima dos 90m. Por outro lado, a plataforma carbo-natada do Cabo Carvoeiro-Remédios constitui uma superfície de abrasão marinha que se encontra à al-titude de 20-25m, bem identificada por geoformas incutidas na sua superfície pela ação do mar e por

Fig. 7 – Vista panorâmica do arquipélago das Berlengas. Observar o contraste entre a plataforma aplanada das Berlengas e os picos dos Farilhões.

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depósitos de areia com fragmentos de conchas, que correspondem a restos de antigas praias, localizados nas zonas mais deprimidas da referida plataforma.

As observações do parágrafo precedente indi-cam que a linha da costa tem mudado ao longo do tempo, devido à ocorrência de alterações do nível do mar relativamente aos continentes. Estas variações do nível do mar podem ser consequência de oscila-ções verticais na posição da superfície dos oceanos à escala global, de movimentos verticais do continen-te e da ocorrência simultânea de ambas as situações.

Considerando a sua localização junto ao litoral e o seu contexto tectónico é de esperar que possam ter ocorrido todas as hipóteses colocadas para as variações do nível do mar. De facto, modificações climáticas acentuadas podem ser responsáveis quer pela descida quer pela descida do nível mar, respe-tivamente em épocas frias (períodos glaciários) e quentes (períodos inter-glaciários). Por outro lado, a região ocidental de Portugal tem sido marcada, na generalidade, por um regime distensivo, conse-quência da abertura do oceano Atlântico durante os tempos meso-cenozoicos, pelo que é de espe-rar que o território esteja organizado em estruturas tectónicas do tipo horst e graben, limitadas por fa-lhas geológicas subparalelas de orientação próxima N-S. Assim, é possível identificar na região de Peni-che blocos de terreno soerguidos, nomeadamente os que contêm o Arquipélago das Berlengas e os calco-arenitos que afloram na península de Peni-che, bem como blocos abatidos, que correspondem às áreas ocupadas pelo mar entre as Berlengas e o Cabo Carvoeiro e ao tômbolo de areia que se de-senvolveu entre as povoações de Peniche e Atou-guia da Baleia. As variações do nível do mar na re-gião é essencialmente função da maior ou menor velocidade das oscilações climáticas e subordina-damente de taxas de descida ou subida de blocos.

A superfície erosiva do planalto da Berlenga, posicionada atualmente a cerca de 90m, já esteve

próximo do nível das águas do mar, como pode ser confirmado pela existência de depósitos de areias de praia, localizados junto ao Carreiro do Mosteiro, onde foram encontradas conchas e clastos relati-vamente rolados de diversas naturezas. Para além da identificação de restos de antigas praias a cotas elevadas, a rede de drenagem atual também se en-contra sobrelevada. Admite-se, mesmo, que tenha já estado abaixo do nível do mar, dado que não exis-te praticamente solo e a erosão do corpo granítico manifesta-se apenas por fragmentos de rochas de reduzida dimensão, não existindo formas erosivas típicas de granitos, como por exemplo estruturas co-lunares, blocos caóticos, ou outros. Atendendo aos considerandos anteriores, a superfície de aplanação descrita poderia ter sido uma antiga plataforma de erosão marinha fossilizada. As rochas eruptivas da Berlenga, granitos vermelhos de granularidade mé-dia a grosseira e composição principal de quartzo, feldspato e micas, foram originadas no interior de uma câmara magmática, localizada a vários quiló-metros de profundidade. Os minerais resultaram do lento arrefecimento (os cristais de quartzo e felds-patos são bem desenvolvidos), consolidação e cris-talização de fluidos magmáticos que ascenderam à câmara magmática provenientes do interior da crus-ta terrestre. A coloração rosa do granito é o resulta-do de um processo de alteração caracterizado pela fixação do ferro na superfície dos feldspatos após ter sido solubilizado por transformação das micas.

As rochas metamórficas (gnaisses e micaxistos) dos Farilhões originaram-se também a grandes pro-fundidades no interior da crusta terrestre. Contudo, a sua génese está relacionada com a subsidência pro-gressiva de sedimentos originais, que sob o efeito de altas pressões e temperaturas, sofrem recristalização com formação de novos minerais, indo substituir total ou parcialmente os que existiam. Simultaneamente, ocorrem variações estruturais evidenciadas pelo grau de cristalinidade dos minerais. O seu comportamen-to torna-se progressivamente mais plástico com o au-

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mento da profundidade, originando o aparecimento de dobras e superfícies penetrativas que são marca-das por alinhamentos dos minerais neoformados.

As características diferenciadas dos litótipos mencionados, em particular o facto das rochas me-tamórficas se encontrarem mais deformadas que os granitos, sugerem que os paragnaisses e micaxistos sejam muito mais antigos, eventualmente parte in-tegrante de antigas orogenias pré-câmbricas e pa-leozoicas. As características litológicas, estruturais, geoquímicas, isotópicas e as idades estabelecidas in-dicam que as rochas dos Farilhões e Forcadas sofre-ram uma evolução metamórfica complexa. Telmo et al. (2010) sugeriu que a génese da fácies granulítica ocorreu na crusta média com condições de pressão (P=8,6±1kbar) e temperatura (T=915±50ºC), evo-luindo posteriormente por descompressão e aumen-to de temperatura. Os estágios evolutivos seguintes são caracterizados por formação de novos minerais por reajustamento em condições de mais baixa pres-são e temperatura, gerando-se assim outro reequilí-brio com a associação mineral seguinte: plagioclase, quartzo, biotite, granada, anfíbola e clinopiroxena.

A partir dos dados e ideias expostos nos pa-rágrafos anteriores é de esperar que as litologias do Arquipélago das Berlengas tenham passado por vários ciclos geológicos, daí a sua significati-

va complexidade. Para além disso, apresentam afi-nidades e uma história em comum com os ter-renos antigos do Maciço Ibérico, tendo apenas sido separados deste por episódios distensivos relacionados com abertura do Oceano Atlântico.

A existência de numerosos carreiros, dos quais se destacam o da Inês, do Mosteiro e do Cação, está intimamente relacionada com a presença de falhas geológicas. Nos locais onde ocorrem as falhas, as ro-chas estão fortemente fraturadas e esmagadas e, por vezes, brechificadas, facilitando assim maior circula-ção de água e, consequentemente, um aumento da velocidade de desagregação e erosão dos materiais rochosos. O Carreiro da Inês, que separa o ilhéu da Inês da Berlenga propriamente dita, deverá corres-ponder a uma falha normal com abatimento de al-guns metros do bloco SE relativamente ao bloco NW.

Outras geoformas interessantes, a maioria de magnífica beleza, são as cavidades, arcos e pontes naturais (Cova do Sonho, Cabeça do Elefante e Fu-rado, entre outras) que se desenvolveram nas ar-ribas da Berlenga (Fig. 8). Estas resultaram da ação mecânica das ondas do mar sobre a base da arriba, onde o material rochoso foi desgastado mais inten-samente. O desgaste é mais acentuado nas arribas mais fraturadas e alteradas, em consequência da menor resistência dos granitos. O horst do arquipé-lago das Berlengas, composto por rochas do maci-ço antigo, constitui um pequeno fragmento do su-percontinente Pangea que existiu há cerca de 280 milhões de anos. Durante a era Mesozoica, esta es-trutura montanhosa teria com certeza dimensões muito maiores, pois os seus constituintes erosiona-dos foram depositados nos mares da época, como pode ser confirmado pela sua presença nas rochas calco-areníticas jurássicas do Cabo Carvoeiro. Nos últimos dois milhões de anos, os efeitos das subidas e descidas generalizadas do nível do mar, conse-quência das glaciações, teve implicações no arqui-pélago, nomeadamente a existência de praias e de uma rede de drenagem sobrelevadas, bem como a formação da superfície de aplanação já descrita.

Fig. 8 – Cabeça do Elefante na Berlenga.Formas erosivas (arcos e cavidades) devido à ação abrasiva do mar.

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INFORMAÇÃO ADICIONAL

O docente poderá destacar a utilização dos métodos radiométricos para a datação abso-luta de rochas, nomeadamente o método U/Pb, que usa o decaimento radioativo de isótopos de urânio para os de chumbo. A partir das metodo-logias isotópicas foram estimadas:

- a idade de cerca de 307 milhões de anos para a intrusão do granito da Berlenga (Valverde et al., 2010);

- duas idades para as rochas metamórficas dos Farilhões e Forcadas; uma mais recente, que reflete um pico térmico aos cerca de 377 milhões de anos, determinada a partir dos constituintes isotópicos da monazite, e outra mais antiga, que corresponde à intrusão de apófises graníticas, contendo pequenos cristais de zircão, que pene-traram micaxistos aos cerca de 483 milhões de

anos (Valverde et al., 2010).

Atendendo aos dados cronológicos obtidos relativos à sucessão de eventos que as forma-ções rochosas do Arquipélago das Berlengas sofreram, é possível elaborar uma história geoló-gica para a região, a partir do conceito de Ciclo Geológico, que incorpora de forma inter-rela-cionada os ciclos das rochas e o ciclo tectónico.

O Ciclo Geológico mais recente foi iniciado pela génese das rochas graníticas das Berlengas a partir da cristalização e, subsequente arrefe-cimento, de um magma que estaria localizado no interior de uma câmara magmática situada a grande profundidade na crusta terrestre. Duran-te muitos milhões de anos a espessa cobertura de rochas encaixantes que envolveriam a câma-

ra magmática foi muito lentamente erodida até que a sua parte superior desapareceu quase por completo, apenas resistindo os relevos resi-duais metamórficos que afloram nos Farilhões e Forcadas. Como consequência do intenso tra-balho erosivo realizado pelos agentes de me-teorização e de sucessivos movimentos tectóni-cos que ocorreram ao longo do tempo, o corpo granítico das Berlengas emerge atualmente na superfície da crusta terrestre. Ainda hoje se ob-servam evidências da sua erosão e consequente acumulação em depósitos de rochas sedimen-tares não consolidadas que afloram no litoral da referida ilha, em particular nas zonas onde se encontram as praias de areia algo rosada.

As rochas metamórficas de alto grau dos Fa-rilhões e Forcadas integraram outro Ciclo Geoló-gico, porém de idade bastante mais antiga. Estas rochas foram originadas e dobradas a algumas dezenas de quilómetros de profundidade (crusta inferior), onde prevaleciam pressões e tempera-turas muito elevadas, por processos que teriam envolvido recristalização e neoformação de no-vos minerais. De facto, foram geradas a partir da transformação de outras rochas ainda mais antigas que poderiam ter sido sedimentares ou mesmo magmáticas, neste caso interdigitadas entre si, após a sua forte subsidência no interior da crusta terrestre. O docente poderá, ainda, abordar a Teoria da Tectónica de Placas na sua generalidade, enquadrando e integrando os dois ciclos geológicos descritos, tendo em vista o conceito de Ciclo de Wilson. Este correspon-de a um ciclo completo que representa a forma-ção, desenvolvimento e o fecho de um oceano.

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Distinga rochas ígneas de metamórficas. Enumere e identifique alguns tipos de rochas ígneas e metamórficas que afloram na região. Quais as condições necessárias para a formação de rochas ígneas e metamórficas? Discuta os métodos de datação absoluta das rochas ígneas. Como se datam as rochas metamórficas?

Como se processa a erosão das rochas? Identifique os principais agentes erosivos associados com a génese das geoformas

Questõesreconhecidos nesta paragem. O que é uma plataforma de abrasão marinha fóssil? Discuta as evidências para a variação do nível médio das águas do mar ao longo do tempo.

Distinga os conceitos: Horst e Graben. Distin-ga deformação frágil de deformação dúctil. O que é uma falha? Identifique e defina os tipos de falha. O que é uma orogenia? Como se forma um supercontinente?

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Descrição: O campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios (Romão, 2001) constitui um lugar que se estende ao longo da linha da costa da península de Peniche numa faixa de cerca de algumas dezenas de metros de largura, desde o Mirador de Frei João (39º22´12´´N; 9º23´48´´W) até ao Forte de Peniche (39º21´13´´N; 9º22´43´´W) (Fig. 5). Forma extensa paisagem cársica de elevada singularidade que se desenvolveu ao longo de milhões de anos junto ao litoral (Ribeiro & Ramalho, 1997), caracterizada por um conjunto de geoformas típicas e originais, esculpidas numa plataforma carbonatada que corresponde à superfície de abrasão marinha plistocénica (Romariz & Marques, 1989).

2. CAMPO DE LAPIÁS DO CABO CARVOEIRO-REMÉDIOS

O campo de lapiás desenvolve-se sobre uma su-cessão de 300m de estratos calco-detríticos interca-lados na base de finas camadas de argilas e de siltitos carbonatados, organizados numa sequência em que as camadas são cada vez mais espessas para o topo. Esta sucessão aflora numa estrutura em monoclinal inclinada para SE e foi datada do Toarciano-Aale-niano (Mouterde, 1955), Jurássico Inferior a Médio (~180 milhões de anos).

Entre as tipologias geomorfológicas superficiais inventariadas destacam-se pináculos, cogumelos, formas zoomórficas (senhora com chapéu, robot e senhora com xaile), estruturas labirínticas entrela-çadas e fusionadas entre si, etc., localizadas entre os Remédios e o Cabo Carvoeiro. As geoformas do tipo cogumelo (blocos pedunculados), identificadas jun-to ao mirador Frei João, são arredondadas e caracte-rizadas pelos estratos localizados na base dos aflora-mentos serem de composição argilo-siltosa e os do topo apresentarem composição mais carbonatada. O desgaste das camadas inferiores é acelerado pelo impacto das partículas de areia transportadas a alta velocidade, principalmente junto ao chão, por ação do vento (corrasão). As geoformas colunares (Cerro

do Cão) constituem estruturas verticais isoladas, de alguns metros de altura que resultaram da dissolu-ção das rochas envolventes, localizadas ao longo de descontinuidades progressivamente alargadas, onde existiu continuada circulação de água.

Os processos erosivos e a presença de desconti-nuidades (estratificação, diaclases e fraturas) con-trolam na generalidade as geoformas pitorescas e singulares que se podem observar em todo o campo de lapiás. Contudo, a plataforma de abrasão marinha quase planar que se desenvolveu à cota de 20-25m resultou da subida das águas do mar nos tempos plis-tocénicos. Evidências da presença do mar sobre esta plataforma são reveladas pela ocorrência de terraços de depósitos de areias de praia com conchas sobre a própria plataforma que foram reconhecidas a cerca de 200m a NE do Cabo Carvoeiro (Zbyszewski et al., 1960). Outras evidências consistem em geoformas reconhecidas junto ao farol do Cabo Carvoeiro que sugerem a ação do movimento de recuo das ondas do mar quando da sua rebentação e a inexistência de fragmentos individuais soltos de rochas carbona-tadas da dimensão dos blocos, como é habitual em áreas com este tipo de morfologias.

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INFORMAÇÃO ADICIONAL

O professor poderá aprofundar o processo de formação de um campo de lapiás, refe-rindo que o modelado desta paisagem cársica é, na generalidade, consequência do efeito erosivo da dissolução química do carbonato de cálcio nos estratos calco-areníticos pela ação da água, processo que é designado de carsificação. O car-bonato de cálcio é facilmente solubilizado em águas ácidas, como é o caso das águas das chuvas e do aerossol da água do mar, originando-se bi-carbonato de cálcio. Os produtos residuais desta dissolução vão-se acumular no fundo dos sulcos, poços, etc., formando depósitos de materiais ar-gilosos de cor vermelha (terra rossa). Estes depó-sitos são constituídos por grãos de quartzo e de feldspatos similares aos do granito da Berlenga, partículas de argila e óxidos de ferro, que fazem parte da composição detrítica dos calcários. A presença sistemática de numerosas descontinui-dades, nomeadamente planos de estratificação, diaclases e fraturas, permite uma maior infiltra-ção e circulação de água e aumenta a superfície de contacto das águas ácidas com os carbonatos. Esta situação, de continuada circulação de água, intensifica os processos de dissolução e como consequência alarga as várias descontinuidades, o que contribui para o aumento da erosão por dissolução das unidades calco-areníticas. Poderá, ainda, referir as formas cársicas de condução e de absorção de água. Entre as tipologias sub-terrâneas reconheceram-se numerosas galerias e grutas que intercomunicam com poços naturais (algares), alguns deles com ligação direta ao mar. Por vezes a configuração das galerias e as meso-formas que se encontram no interior, parecem traduzir cenas da vida real. Estas cenas vão poten-ciar a imaginação popular, conduzindo ao apare-

cimento de lendas ou histórias, como por exem-plo a galeria com os Passos de D. Leonor. Algumas das grutas apresentam dimensões consideráveis e são constituídas por várias câmaras caracteri-zadas por grandes espaços abobadados, como por exemplo a Gruta da Furninha. As tipologias morfológicas reconhecidas são consistentes com as características geológicas da área, ocorrendo um controlo das geoformas cársicas em função da disposição dos estratos e do seu maior ou me-nor conteúdo em carbonato de cálcio, bem como das direções das estruturas tectónicas frágeis pré--existentes, nomeadamente falhas e diaclases. Sugere-se, ainda, que se abordem as oscilações do nível do mar e os períodos de regressão e transgressão que deixaram como testemunhos os terraços de depósitos de areias de praia com conchas. Os alunos poderão medir as orientações de algumas descontinuidades (diaclases, planos de estratificação e fraturas).

Fig. 9 – Paisagem cársica do Cabo Carvoeiro-Remédios. Figura antropomórfica (robot com os braços abertos) esculpida em rochas carbonatadas.

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Questões

Que rochas podemos encontrar neste local: calcários ou arenitos? Como se formam as rochas sedimentares? E as estruturas sedimentares que contêm? Identifique evidências de atividade orgânica nas camadas sedimentares dos afloramentos visitados. Com base nos dados recolhidos tente reconstruir o ambiente paleogeográfico que originou a sucessão sedimentar visitada.

Como se forma um campo de lapiás? Caracterize as geoformas reconhecidas em paisagens cársicas. Discuta o papel das descontinuidades na formação do carso. Justifique as evidências de que o mar terá estado a um nível mais elevado nesta zona, originando uma plataforma de abrasão marinha fóssil.

Fig. 10 – Figura antropomórfica (senhora

com pitó) esculpida em rochas carbonatadas

estratificadas.

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Descrição: A Ponta do Trovão (39º22´15´´N; 9º22´59´´W) constitui uma reentrância rochosa no mar, que limita a fronteira oriental da pequena praia do Abalo, localizada na parte norte da Península de Peniche (Fig. 5). Esta arriba está organizada em estratos sedimentares sobrepostos, caracterizados por apresentarem espessuras decimétricas. As camadas estão espaçadamente afetadas por diaclases, organizadas na subvertical, e inclinam ligeiramente para Sul numa estrutura em monoclinal (Fig. 11).

3. REGISTO SEDIMENTAR DA PONTA DO TROVÃO COM IDADE DE 183 MILHÕES DE ANOS

Neste sítio pode-se observar a passagem entre duas formações geológicas de características muito distintas. A mais antiga datada do Pliensbaquiano (Mouterde, 1955; Duarte, 2003; 2004; 2005; 2006), é constituída por alternâncias de estratos calcários dolomíticos intercalados de margas ricas de matéria orgânica. Apresenta abundante conteúdo fossilífero, que se pode observar no topo da arriba, evidencian-do-se aí a presença de acumulações pos-mortem e de fósseis isolados no interior dos estratos. Entre as espécies fósseis destacam-se, em particular, amonites (pequenas conchas em forma de espiral), que são os restos de antigos cefalópodes predadores cujo des-cendente atual mais próximo é o Nautilus, e belemni-tes (designados na gíria popular por charutos devido à sua forma), que eram animais carnívoros com corpo mole à volta de uma concha interna (rostrum), seme-lhantes às lulas atuais. Esta unidade teria sido deposi-tada em plataforma de águas pouco profundas, onde reinava abundante vida aquática.

A esta unidade sucedem sedimentos datados do Toarciano (Mouterde, 1955; Duarte, 2003; 2004; 2005; 2006), constituídos por sucessão de cerca de 300m de camadas de argilas margosas e calco-arenitos, organizada numa sequência negativa (as bancadas são cada vez mais espessas para o topo da unidade). Os estratos argilosos desaparecem para o topo da se-quência e os calcários são cada vez mais frequentes e aumentam progressivamente de espessura para o topo. As litologias, estruturas sedimentares e conteú-do fossilífero sugerem que esta sequência resultou da progradação de um sistema de leques submari-

nos alimentados por rampas próximas da linha da costa, ligados eventualmente com o levantamento do horst das Berlengas/Farilhões (Wright & Wilson, 1982). Evidências desta asserção são a presença de grãos de quartzo e de feldspatos rosados de carac-terísticas similares às dos granitos da Berlenga e o reconhecimento de estruturas sedimentares (estrati-ficação oblíqua e marcas de impressão na base das bancadas) que sugerem transporte de materiais de ocidente para oriente.

Esta unidade contrasta com a anterior pelo me-nor conteúdo em fósseis. Contudo, reconheceram-se numerosos crinoides de secção pentagonal (na gíria popular estrelinhas do mar) e icnofósseis (pistas da atividade de organismos vivos). Os crinoides viviam em colónias e alimentavam-se por filtração. Possuíam um pedúnculo que poderia atingir vários metros de comprimento e correspondia a órgão com a função de fixação às rochas (Cerro do Cão). Os icnofósseis ob-servam-se em grande número no topo das bancadas

Fig. 11 – Vista panorâmica do geomonumento da Ponta do Trovão.

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argilo-carbonatadas (a Sul do Mirador de Frei João), constituindo evidências da locomoção de organismos vivos.

O estudo recente da biostratigrafia das amonites evidenciou que o limite entre os andares jurássicos, Pliensbaquiano e Toarciano, se localiza na secção da Ponta do Trovão e que este local é considerado pela comunidade científica nacional e internacional como possuindo um dos melhores registos deste intervalo de tempo à escala mundial. De facto, o registo sedi-mentar preservado neste local constitui umas das me-lhores secções sedimentares do andar Toarciano à es-cala mundial, confirmando que os sedimentos foram ali depositados no intervalo de tempo entre 183-175,6 milhões de anos.

Atendendo aos considerandos, foi proposto à Comissão Internacional de Estratigrafia, organismo pertencente à International Union of Geological Sciences (IUGS) tutelado pela UNESCO, que a secção da Ponta do Trovão fosse classificada como geomo-numento, representativo do estratótipo do Toarcia-no (Elmi et al., 1996 e 2005; Duarte, 2006). Em 2015, foi aprovada esta pretensão, tendo hoje o local valor científico à escala global (Global Sedimentary Strati-graphic Point, GSSP).

Em sintonia com esta proposta, o Município de Peniche classificou o local como Imóvel de Interesse Municipal, apesar de ser parte integrante da Reserva Ecológica Nacional e da Rede Natura 2000.

Questões Justifique a importância do local

para os estratígrafos.

Identifique as sequências sedimentares que podem ser observadas neste local. Qual os estratos mais recentes? E os mais antigos?

Qual a importância do estudo dos fósseis?

Em que consiste o processo de fossilização? Estimar a idade relativa das rochas através do conteúdo fossilífero que elas contêm? Quais os processos de fossilização mais comuns?

Distinga fósseis de idade de fósseis de fácies e identifique-os no afloramento.

Discuta o papel dos fósseis na reconstrução de ambientes antigos.

INFORMAÇÃO ADICIONAL

O professor poderá abordar o processo de formação das rochas sedimentares e salien-tar que a sequência de estratos (sedimentares) re-sulta do processo de sedimentação segundo o qual ocorre a deposição dos seus constituintes e realçar o Princípio da Sobreposição que esta-belece que, caso não tenham ocorrido modifica-ções desde a sua deposição, o estrato mais recen-te se encontra por cima do mais antigo. Poderá, igualmente, referir o Princípio da Identidade Paleontológica que permite atribuir uma idade a um estrato através da utilização fósseis de ida-de e que o estudo das rochas sedimentares e das sequências de deposição dos sedi-mentos / deposicionais permite identificar o ambiente de formação das rochas sedimentares e da deposição dos sedimentos (conceito de fácies de um depósito sedimentar) e abordar as formas do litoral que resultaram da ação do mar: formas de erosão e formas de acumulação de se-dimentos na faixa litoral.

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Descrição: O registo da erupção vulcânica da Papoa (39º22´23´´N; 9º22´37´´W) está localizado na parte mais setentrional da península de Peniche (Fig. 4), mais propriamente no estreito istmo que efetua a ligação do pequeno promontório rochoso, designado da Papoa, com a plataforma de abrasão marinha da península de Peniche.

4. ERUPÇÃO VULCÂNICA DA PAPOA

O afloramento vulcânico da Papoa, alongado na direção N-S e de reduzida dimensão, é constituído por brechas vulcânicas superficiais, caracterizadas por conter inúmeros fragmentos de rochas que fa-riam parte das paredes de uma chaminé vulcâni-ca (Fig. 12). A composição dos clastos da brecha varia desde rochas sedimentares (calcários e are-nitos) até rochas ígneas e metamórficas identifica-das no arquipélago das Berlengas (granitos róseos da Berlenga e gneisses similares aos dos Farilhões) e encontram-se dispersos no seio de uma matriz fina, muito alterada, com composição vulcânica.

Associados às brechas anteriores ocorrem tufos de granularidade mais fina, constituídos por mate-rial muito fino bastante alterado que correspondem a cinzas, bagacina e bombas vulcânicas, bem como alguns fragmentos de rocha de reduzidas dimen-sões. As bombas vulcânicas (Fig. 13), observadas à

escala mesoscópica e microscópica, apresentam no geral contornos perfeitos, a que não falta, em alguns exemplares, as extremidades torcidas pelo movi-mento rotacional da lava durante o seu percurso aé-reo (Andrade, 1979). Algumas das bombas contêm núcleos de outras rochas (granitos, calcários, etc.), envolvidas por uma capa de material magmático al-terado. Este conjunto de fragmentos de rocha sólida de natureza piroclástica foi expelido, inequivocamen-te, por uma erupção de um vulcão. Contudo, não exis-tem evidências de que a chaminé vulcânica ou o canal por onde escapam os gases e o magma tenha sido na-quele local, dado que não foram encontradas rochas originadas por termometamorfismo.

Atendendo às características especificadas nos parágrafos anteriores, o reservatório do magma, provavelmente basáltico, que alimentou as erup-ções, situava-se a uma profundidade suficientemen-

Fig. 12 – Tufo-Brecha da Papoa.

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Fig. 14 - Esquema interpretativo da evolução do tufo-brecha da Papoa. A- Estado inicial; B – Estado intermédio; C – Estado erosivo.

Fig. 13 – Bomba vulcânica com núcleo de granito róseo envolvida por uma capa de material magmático alterado. Notar os contornos perfeitos e as extremidades torcidas pelo movimento rotacional da lava durante o seu percurso aéreo.

Cone vulcânico

Sedimentos do Cretácico

Sedimentos do Jurássico

Soco granítico e metamórfico

A

C

B

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te abaixo da cobertura sedimentar da península de Peniche e eventualmente sob as rochas que cons-tituem o arquipélago das Berlengas. De facto, não se produziram ações indiscutíveis de metamorfis-mo térmico nas camadas de calcários, observando--se apenas numerosos blocos de rochas (granitos e gnaisses) arrancados ao substrato antigo.

Os factos apresentados permitem interpretar o afloramento do tufo-brecha da Papoa como um res-to de um cone vulcânico preservado graças ao co-lapso de uma fração do mesmo ao longo de duas falhas paralelas com rumo NW-SE (Andrade, 1979), em paisagem que era muito diferente da atual. O movimento das falhas teria provocado o abatimento quase vertical de um bloco de terreno, formando-se uma depressão em forma de graben e a erosão dife-rencial teria sido responsável pela topografia atual.

Destaca-se ainda a elevada intensidade das ex-plosões, pelo menos em alguns períodos, dada a sua enorme capacidade para movimentar para o exterior blocos de grandes dimensões localizados a profun-didade significativa, bem como o carácter explosivo das erupções, que pode estar ligado com a invasão da chaminé vulcânica por água do mar, o que teria impe-dido a presença demorada de uma coluna de água na conduta do vulcão (Fig. 14).

A idade desta erupção vulcânica foi determinada de forma indireta; de facto, foram observados no seu interior fragmentos de calcários jurássicos e calcários sacaroides do Cretácico Superior, podendo-se assim, deduzir que esta erupção é posterior a cerca de 60 milhões anos. Atendendo aos factos mencionados, associa-se esta erupção a evento de carácter regio-nal que também foi responsável pela génese dos granitos de Sintra, Sines e Monchique.

Questões O que são e como se formam as

rochas vulcânicas?

O que se entende por brecha vulcânica e tufo vulcânico?

Qual a composição dos tufos vulcânicos?

Que tipos de erupções vulcânicas existem? Quais os produtos emitidos por elas?

O que são aparelhos vulcânicos? Identifique as principais morfologias associadas com aparelhos vulcânicos.

Justifique a afirmação: a erupção vulcânica da Papoa é posterior à formação dos calcários jurássicos e dos calcários sacaroides do Cretácico Superior.

Qual o Princípio Fundamental da Estratigrafia que se pode aplicar a este conjunto de rochas?

INFORMAÇÃO ADICIONAL

O professor poderá referir o processo de forma-ção das rochas vulcânicas e o tipo de erup-ções vulcânicas existentes. Poderá, igualmente, abordar o Princípio da Inclusão que permite atribuir uma idade relativa a uma rocha ou con-junto de rochas através da análise das relações geométricas entre essas rochas e que estabelece que se uma rocha contiver fragmentos de outra, é-lhe posterior.

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Descrição: A península do Baleal (39º22´36´´N; 9º20´27´´W) localiza-se na linha da costa, onde existe a po-voação como o mesmo nome, a 3km a NE da cidade de Peniche. Constitui um promontório plano e alongado, de orientação N-S, que se desenvolveu à cota de 25m, com 1800m de comprimento e 800m de largura máxi-ma, formada pela ilha do Baleal e pelos ilhéus das Pombas e de Fora (Fig. 5).

5. MONOCLINAL E TÔMBOLO DO BALEAL

A magnífica paisagem da península do Baleal é marcada por conjuntos de bancadas sobrepostas de calcários intercalados com margas carbonatadas de fraca espessura, onde sobressai a inclinação das ca-madas para oriente. De facto, o pacote de estratos apresenta direção N-S e pendor variável de 35º-55º para NE, formando uma estrutura tectónica desig-nada por monoclinal (Fig. 15). Sabendo-se que as camadas só podem ser originadas na horizontal, o

que teria acontecido para que estejam inclinadas? Por outro lado, coexistem lado a lado dois ambien-tes sedimentares completamente distintos. O mais antigo com idade de cerca de 165 milhões de anos é evidenciado pelos estratos carbonatados já men-cionados, que contêm, quer no interior quer no topo das bancadas, provas de numerosos vestígios de atividade biológica, nomeadamente fragmentos de conchas de moluscos, de lamelibrânquios, de amo-

Fig. 15 – Estratos inclinados de calcários de características de ambiente marinho na estrutura monoclinal do Baleal (Ilhéu das Pombas).

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nites, de belemnites, entre outros fósseis, e diversos icnofósseis que se podem observar no topo e no interior das camadas. Estas características sugerem que esta unidade carbonatada foi depositada numa bacia de águas calmas relativamente quentes com abundante vida. Nestas águas marinhas, as camadas de granularidade mais fina (margas carbonatadas) são mais ricas em matéria orgânica e teriam sido se-dimentadas por decantação.

O ambiente mais moderno, com idade aproxi-mada de 150 milhões de anos, é evidenciado pela existência de uma sucessão de camadas de argilas vermelhas ou cinzentas e de arenitos vermelho--amarelados. Algumas destas bancadas contêm localmente, fragmentos de ossos de dinossauros (Zbyszewski, 1946) e carvão petrificado, com formas similares a troncos de árvores. Esta sucessão aflora ao longo das arribas que estão localizadas a este da península do Baleal, a caminho da povoação de Fer-rel; de facto, existe um istmo de areia que liga estas

arribas à própria península carbonatada do Baleal. Estas características composicionais sugerem que a sequência de natureza continental, que se encontra fortemente oxidada, foi depositada em ambientes pantanosos que se desenvolveram em margens flu-viais densamente arborizadas (Fig. 16).

A impossibilidade da coexistência lateral das su-cessões representativas dos ambientes sedimenta-res já mencionados à escala do afloramento, tendo em conta o Princípio Estratigráfico da Sobre-posição, só pode ser aclarada por movimentações tectónicas. De facto, existe uma falha geológica que coloca em contacto as duas unidades em causa. Este acidente, de direção próxima do N-S, é responsável pela subida vertical do bloco de terreno ocidental e descida do oriental, designa-se por falha normal. Esta movimentação obriga, por arraste, que os estra-tos dos calcários depositados na horizontal sofram uma forte inflexão para E. Posteriormente, a erosão determina a configuração atual da paisagem da re-gião, atuando de forma a causar o desaparecimento dos sedimentos continentais que se encontravam sobre os carbonatos marinhos na península do Ba-leal. No bloco de terreno oriental, apenas se obser-vam os depósitos continentais, pois os calcários ma-rinhos estão por debaixo destes.

Como já foi dito anteriormente, a pequena “ilha” rochosa do Baleal está ligada ao continente por um istmo arenoso, que resultou da acumulação maiori-tária de areias de praia e uma pequena percentagem de areias eólicas. Esta forma do litoral designa-se por tômbolo, neste caso do Baleal.

A origem do tômbolo do Baleal está relacionada com a existência de uma zona de sombra, localiza-da a sotavento da ilha, onde ocorreu forte redução de energia e, consequentemente, condições favo-ráveis para a acumulação de materiais arenosos. As ondas do mar dominantes na zona, de direção NW e

Fig. 16 – Estratos de argilas e arenitos vermelhos com características de ambientes continentais (Pedras Ruivas, Baleal).

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30INFORMAÇÃO ADICIONAL

O professor poderá abordar com mais detalhe os Princípios Fundamentais da Estratigrafia, dado que é possível suportar a sua dedução nos diver-sos afloramentos deste lugar. Assim, identificam--se o Princípio da Horizontalidade Inicial, a partir do qual foi inferida a atuação de movi-mentos tectónicos que induziram a inclinação às camadas inicialmente depositadas na horizontal e o Princípio da Sobreposição, que permite concluir sobre a impossibilidade de concomitân-cia lateral de estratos originados em ambientes sedimentares distintos, só uma movimentação tectónica, neste caso uma falha normal, poderia ter colocado em contacto as unidades referidas.

Sugere-se ainda que se explique o que são estruturas tectónicas e exemplifique os diversos tipos de dobramentos que ocorrem na natureza, nomeadamente as designações de monoclinal, sinclinal e anticlinal. Em relação à deformação frágil propõe-se a abordagem do conceito de fa-lha e a identificação dos diversos tipos de falhas.

Poderá ainda referir que o estudo das rochas sedimentares, nomeadamente a sua composi-ção, as estruturas sedimentares que contêm e o seu conteúdo fossilífero, na qual se inclui os icno-fósseis, permite caracterizar os paleoambientes que contribuem para o conhecimento da histó-ria da Terra.

Outra sugestão a desenvolver relaciona-se com a formação do tômbolos de areia, nomeadamente o de Peniche, que permite a ligação da “ilha” da ci-dade de Peniche ao continente, e o do Baleal, que faz a união da ilha com o mesmo nome aos Casais do Baleal já na parte continental.

Os tômbolos desenvolveram-se de forma se-melhante, porém o de Peniche necessitou de um volume significativo de areia e de alguns séculos para a sua formação, como pode ser confirmado por relatos históricos (Calado, 1984); o do Baleal foi gerado em apenas algumas dezenas de anos. De facto, no século XII a povoação de Peniche ain-da era uma ilha e o porto principal da região era a Atouguia da Baleia, que em tempos subsequentes

oblíquas ao litoral, contribuem fortemente para esta acumulação, dado que, ao embaterem no promon-tório, sofrem refração e mudam de direção conver-gindo de forma oposta na zona de sombra. As on-das do mar induzem ainda correntes de deriva que movimentam enormes quantidades de sedimentos os quais são transportados ao longo do litoral; ao co-lidirem com a “ilha” do Baleal sofrem inversão na sua direção, originando assim a inversão do transporte longilitoral da areia e, consequentemente, a sua acu-mulação na zona de sombra pelo efeito de armadilha sedimentar. O tômbolo do Baleal iniciou-se primeiro pela aglomeração de areia no fundo do mar, uma vez que havia disponibilidade de areia. Como o forneci-mento de areia continuou, o tômbolo foi crescendo

até ficar em posição emersa. Estas areias depois de secas pelo sol são transportadas para as zonas mais internas do tômbolo até encontrarem aí obstáculos que possibilitem a sua acumulação, de forma a pros-seguir o crescimento do tômbolo. Este processo de génese e desenvolvimento durou apenas algumas dezenas de anos. Nos últimos anos, tem ocorrido diminuição considerável das suas dimensões, conse-quência dos efeitos erosivos provocados, quer pelas atividades humanas quer pela subida generalizada das águas do mar. Por outro lado, a areia disponível a ser transportada pelo mar para reposição das areias desaparecidas é cada vez menor, uma vez que gran-de parte delas é retida nas albufeiras das barragens.

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Questões Compare os litótipos sedimentares que podem ser identificados nos

diversos afloramentos que se podem observar ao longo desta paragem. Porque se pode concluir que um dos paleoambientes sedimentares teria sido uma bacia de águas marinhas relativamente calmas e quentes com vida abundante e o outro corresponderia a zonas pantanosas que se desenvolveram em margens fluviais, por vezes densamente arborizadas?

Qual a razão da coloração vermelha das argilas e dos arenitos e da cinzenta das margas carbonatadas?

Que fósseis se podem observar nos diversos afloramentos?

Em que ambiente viviam os seres vivos a partir do qual se originaram os fósseis?

O que são icnofósseis?

Porque se pode atribuir uma idade de 165 milhões de anos e uma idade de 150 milhões de anos às camadas descritas nos referidos paleoambientes?

Justifique o facto de as camadas se encontrarem inclinadas.

O que se entende por uma estrutura deformada em monoclinal?

O que é uma falha geológica?

Quais são os tipos de falha que afetam a crusta terrestre?

O que é um tômbolo de areia? Quais as condições necessárias para a sua génese? Como se formam?

foram sofrendo assoreamentos sucessivos. A me-dida que se gerava o tômbolo de Peniche desen-volveram-se cordões dunares entre os Casais do Baleal e a Gamboa, diminuindo acentuadamente

a área lagunar que existia entre as duas povoações, ocorrendo mesmo o fecho da laguna durante o sé-culo XVI.

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Descrição: A Gruta da Furninha (39º21´21´´N; 9º24´02´´W), conhecida também pelo nome de Cova de Do-minique [que teria sido um afamado bandido e salteador das igrejas do povoado (Calado, 1984)] localiza-se a cerca de 850m a SW do Cabo Carvoeiro, na parte sul da Península de Peniche (Fig. 5). É uma grande cavidade natural que se desenvolveu sensivelmente a 15m do nível atual das águas do mar nas arribas calco-areníticas do Jurássico Inferior. A entrada tem a forma de arco e no seu interior podem ser cartografados corredores, câmaras, cúpulas, galerias e poços num espaço com 30m de comprimento.

6. GRUTA DA FURNINHA

À frente da entrada da gruta (Fig. 17) desenvol-veu-se uma plataforma sub-horizontal protegida, onde foi construído um pesqueiro, e na base da arri-ba observa-se um conglomerado muito grosseiro de matriz carbonatada com elementos mais ou menos arredondados de natureza granítica e calcária, na sua maioria, e xistenta e gnaissica, em menor número. Estas indicações sugerem que, em tempos passados, a plataforma anterior poderia estender-se mais para Sul, à frente da qual se teria desenvolvido cordão de areia de praia, cuja base seria representada pelo con-glomerado descrito (Fig. 18).

A Gruta da Furninha é uma importante estação pré-histórica, onde se efetuaram escavações no final do século XIX (Delgado, 1880). Através do método estratigráfico foi possível identificar uma sucessão se-dimentar com duas unidades completamente distin-tas. Na base, um complexo de areias amareladas com horizontes muito produtivos intercalados de areias estéreis com 9,5m de possança, à qual sucede um de-pósito de 2 a 3m de espessura constituído por argilas arenosas negras, com elevado teor de matéria orgâni-ca (Delgado, 1880).

A unidade inferior é constituída por sete níveis arenosos onde apareceram artefactos líticos (raspa-dores, núcleos, lascas, discos, raspadeiras, pontas, furadores, lâminas, bifaces, etc.), restos de ossos de fauna quaternária (mamíferos: hienas, linces, veados,

Fig. 17 – Entrada da Gruta da Furninha.

Fig. 18 – Horizonte conglomerático com clastos de granito, gnaisse, arenito, calcário, entre outros, localizado na base da sucessão da Gruta da Furninha.

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javalis, bois selvagens, rinocerontes, ursos, cavalos, cães, etc.; aves e peixes) e um fragmento de maxilar humano que, pelas suas reduzidas dimensões, deve-ria ter pertencido a uma criança (Neandertal?). Estes horizontes produtivos são separados entre si por areias, brancas e finas, de características marinhas, sugerindo que a gruta teria sido invadida várias ve-zes pelo mar; durante estes períodos depositavam--se as areias e, consequentemente deixaria de haver ocupação. A partir da descrição dos materiais líticos acima mencionados, Breuil & Zbyszewski (1945) con-sideraram a existência de ocupação humana duran-te o Paleolítico Inferior a Superior (desde 1 milhão de anos até 10 mil anos). A descoberta de ossos de mamíferos de climas quentes (rinocerontes) e frios (ursos) sugere que ocorreram acentuadas mudanças climáticas durante este período de tempo e, conse-quentemente, variações do nível das águas do mar, corroborando que a gruta teria sido invadida após as glaciações.

No depósito superior, muito produtivo, recolhe-ram-se instrumentos líticos (pontas de setas e lan-ças, facas, lâminas, raspadeiras, etc.) e peças líticas residuais (lascas e núcleos de sílex), que mostram a existência de atividade permanente de fabrico

de instrumentos a partir de ossos de javali, veado, urso, cabra, carneiro, boi, texugo, coelho, vértebras de peixe e conchas, entre outros. Contudo, destaca--se a descoberta de numerosa coleção osteológica humana, tendo sido estimado através dos maxilares inferiores que existiam cerca de cento e quarenta corpos exumados. Este conjunto de ossos encontra-va-se bastante remexido e, pelo facto de o número de fémures não ser igual ao número de úmeros, foi levantada a suposição ainda não confirmada de an-tropofagia. Outra hipótese ventilada que explicaria os factos anteriores é que o local teria sido uma ne-crópole pré-histórica reutilizada continuamente por inúmeras gerações e, simultaneamente, teria sofrido sucessivas inumações. A presença junto aos esquele-tos desarticulados de numerosos artefactos em osso (contas e alfinetes, entre outros), em sílex e quartzi-to (raspadeiras, lâminas, facas, etc.), em anfibolito e xisto anfibólico (machados de pedra polida, enxós e placas decorativas) e em cerâmica (vasos fragmenta-dos, por vezes decorados) corrobora a hipótese de ter sido uma necrópole.

A descoberta mais surpreendente neste depósito consistiu num fragmento de crânio com perfuração incompleta do parietal com cerca de vinte milíme-

Fig. 19 - Material recolhido na Gruta da Furninha que se encontra no museu Geológico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

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tros de diâmetro e cinco milímetros de profundida-de, com sinais evidentes de cicatrização, tendo sido o primeiro caso de trepanação craniana identifica-do em Portugal (Delgado, 1880). Admirável é ainda o facto de o indivíduo ter sobrevivido após a inter-venção, como é evidenciado por o tecido esponjoso do díploe estar recoberto por tecido compacto. Esta técnica teria sido implementada provavelmente com fins terapêuticos e/ou em rituais mágico-religiosos.

No depósito superior foi ainda encontrada enor-me quantidade de fragmentos de carvão distribuí-dos por toda a gruta, prova inequívoca do uso do fogo que faria parte do ritual funerário praticado ou então serviria para a iluminação de todas as galerias onde a luz exterior não conseguia penetrar.

A proveniência de numerosos artefactos fune-rários do Neolítico ao Calcolítico (> 10 mil anos) su-gere que seja esta a idade do depósito superior da Gruta da Furninha. Esta datação foi confirmada pela descoberta de um grande vaso globular com asas de suspensão típico do Neolítico Médio (Breuil & Zbyszewski, 1945).

A Gruta da Furninha foi habitada durante gran-des períodos de tempo na pré-história. Primeiro, du-rante o Paleolítico, por caçadores recolectores que a utilizaram principalmente como abrigo, como é confirmado pelos numerosos achados líticos e ossos humanos recolhidos. Posteriormente, do Neolítico ao Calcolítico, foi transformada numa necrópole por uma civilização mais evoluída que já utilizava instru-mentos de pedra polida, produzia cerâmica e realiza-va operações cirúrgicas elaboradas.

Um conglomerado será uma rocha sedimentar?

Quais as formas cársicas mais comuns reconhecidas no local? Como se originaram? Por processos de meteorização química ou física?

É possível inferir que a Gruta da Furninha testemunha variações climáticas ao longo do tempo, em particular no Quaternário?

Porque se pode inferir que a Gruta da Furninha foi invadida pelo mar após as glaciações?

Questões

INFORMAÇÃO ADICIONAL

O professor pode referir que a Gruta da Fur-ninha testemunha a evolução natural e humana do passado do local, constituindo um patrimó-nio geológico e arqueológico singular e raro. Pode dar enfoque à panorâmica visual envol-vente, onde sobressai o recorte do litoral junto à Consolação e as longínquas serras de Sintra e de Montejunto. Poderá, igualmente, explicar a dife-rença entre conglomerado e brecha sedimentar e abordar os períodos de glaciação e os períodos de degelo e as consequentes mudanças climáti-cas que implicaram variações do nível das águas do mar.

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A diversidade da paisagem do litoral da região de Peniche é marcada pela ocorrência de numerosos lugares e geomonumentos, que enriquecem e valo-rizam o seu património cultural. A sua identificação, descrição e registo, na perspetiva da compreensão da história geológica do lugar e/ou do afloramento, bem como a sua contextualização na evolução do planeta Terra, acrescenta valor cultural e importância científica, pedagógica e sócio-económica à região.

De facto, a variedade e singularidade geológica desta região, onde afloram unidades cuja idade pas-sa das eras geológicas mais antigas (Paleozóico ou mesmo Neoproterozóico) aos tempos mais recentes (Cenozóico), permitem considerar esta região como um verdadeiro laboratório natural para as ciências geológicas. Para além dos aspetos focados, a obser-vação no campo in loco de diversos tipos de elemen-tos morfológicos da paisagem, de unidades geológi-cas, de formas e estruturas, permitem reconhecer e entender processos que possibilitam a formulação

de hipóteses para a geohistória da região ao longo dos tempos, no contexto da evolução da tectónica das placas.

Porém, a observação em detalhe de afloramentos que permitem a descrição e identificação de cada unidade litológica através da análise das estruturas que contém e das relações dos seus contactos, dão indicações para compreender e caracterizar geoam-bientes onde se formaram cada uma das unidades geológicas abordadas. A descrição de amostras de mão através da classificação dos tipos de rochas em função da identificação de componentes texturais, minerais e/ou fósseis presentes vão complementar e detalhar os geoambientes característicos de cada unidade geológica. Em síntese, considera-se que a região de Peniche é um verdadeiro laborátorio na-tural para o estudo da maioria das áreas científicas das ciências geológicas a todas as escalas, desde a visão panorâmica da paisagem ao detalhe da análise de amostras de mão.

CONCLUSÕES

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GLOSSÁRIOAaleniano - Andar inferior do Jurássico médio.

Amonite - molusco cefalópode já extinto seme-lhante aos Nautiloides, mas cujo sifão tem posi-ção ventral. Os tabiques originam uma estrutura complexa de suturas. Surgiu no Devónico inferior (há cerca de 419 milhões de anos) e desapareceu bruscamente no final do Cretácico.

Anfíbola - grupo de minerais silicatados ferro-magnesianos que cristalizam nos sistemas ortor-rômbico, monoclínico e raramente no triclínico. Cristaliza a partir do magma.

Anfibolito - rocha metamórfica máfica compos-ta essencialmente por anfíbola e plagioclase, po-dendo apresentar ou não foliação.

Areia eólica - sedimento clástico não consolida-do, composto essencialmente por grãos de quart-zo ou outros minerais, dependendo da rocha que lhes deu origem, de tamanho que varia entre 0,06 e 2 mm e cujo transporte foi efetuado pelo vento.

Arenito - rocha sedimentar detrítica constituí-da por grãos de areia agregados por um cimento que pode ser silicioso, carbonatado ou composto por óxidos ou hidróxidos de ferro.

Arquipélago - grupo de ilhas próximas entre si e que apresentam no geral a mesma origem e es-trutura geológica, podendo ser continentais, co-ralinas ou vulcânicas.

Basalto - Rocha vulcânica quase sempre extrusi-va (rocha extrusiva), escura (máfica), de granula-ridade muito fina (textura afanítica), constituída essencialmente por piroxenas, olivinas e plagio-clases, podendo conter uma fração de vidro vul-cânico. Os minerais acessórios mais frequentes são os óxidos de ferro e de titânio. O equivalente plutónico do basalto (rocha equivalente em ter-mos composicionais) é o gabro. Estas duas rochas, assim como outras afins, são as principais consti-tuintes da crusta oceânica.

Biotite - mineral micáceo de composição ferro-magnesiana, da classe dos silicatos (filossilicatos) e do grupo das micas. Também conhecida como mica preta.

Belemnite - é um molusco cefalópode marinho que apresenta um rostro calcário robusto em for-ma de bala. Surgiu no Jurássico e foi extinto no Cretácico.

Brecha vulcânica - rocha clástica de granulação grosseira constituída por fragmentos angulares de rocha (maiores que 2mm), cimentados por matriz de granulação mais fina de natureza igual ou diversa dos fragmentos maiores. Formada por atividade ígnea vulcânica.

Calcário dolomítico (ou dolomito) - rocha sedi-mentar carbonatada, constituída essencialmen-te por carbonato de cálcio e magnésio (dolomite). Deriva de um calcário por dolomitização.

Calcário sacaroide - rocha sedimentar de ori-gem química, constituída predominantemente de carbonato de cálcio, principalmente calcite, e que apresenta uma textura sacaroide (cristais brilhantes semelhantes a grãos de açúcar).

Calcolítico - idade do cobre. É um dos períodos da proto-história, situado cronologicamente entre o Neolítico e a Idade do Bronze (aproximadamente 2500 a 1800 a.C.). O termo também pode ser uti-lizado para denominar algumas sociedades que apresentaram manifestações culturais diferen-ciadas durante este período.

Carsificação - processo responsável pela génese de relevos característicos ao longo de milhares de anos que consiste na dissolução de rochas por ação da água da chuva, que se torna ligeiramente ácida ao incorporar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e depois de atravessar o solo. Assim, ao infiltrar-se através da rocha carbonatada, esta água acidificada vai dissolvê-la, ajudando a for-mar a paisagem cársica.

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Cefalópode - molusco marinho que apresenta um corpo com simetria bilateral.

Cenozoico - Era do tempo geológico que sucede ao Mesozoico até à atualidade. Compreende os Períodos Paleogénico, Neogénico e Quaternário.

Clasto - fragmento de rocha que foi transportado por processos vulcânicos ou sedimentares.

Clinopiroxena - termo geral utilizado para indi-car qualquer uma das piroxenas que cristaliza no sistema monoclínico.

Conglomerado - rocha sedimentar constituída por fragmentos de outras, que foram depositados e cimentados. Estes fragmentos têm dimensões superiores a 2 mm e são rolados.

Cretácico - Período que encerra a Era Mesozoica.

Crinoides - classe de equinodermes, de corpo ca-liciforme, que vivem fixados temporária ou per-manentemente.

Cristalinidade - é dada pela proporção relativa de material cristalizado (cristais) e de material não cristalizado (vidro). Segundo este critério é possí-vel definir três tipos de texturas: holocristalinas [constituídas essencialmente por cristais (mais de 90%)]; hipocristalinas [constituídas por uma parte vítrea e uma parte cristalina (nenhuma das partes atinge os 90%)]; holohialinas [constituí-das essencialmente por vidro (mais de 92%].

Diaclase - plano de fratura em afloramentos ro-chosos em que não há movimento relativo dos blocos. As diaclases podem ter origem tectónica ou resultar do arrefecimento do magma e sua consolidação, como resultado da diminuição de volume. Outras vezes, as diaclases geram-se quando há alívio das tensões a que o material esteve sujeito (pressão litostática, por exemplo).

Dinossauro - réptil fóssil, que viveu na da Era Me-sozoica e se extinguiu no final do Cretácico, há 66 milhões de anos.

Dobra - arqueamento das rochas por ação de um campo de tensões. Uma dobra caracteriza-se por ter um eixo, um plano axial e dois flancos.

Erosão diferencial - erosão que atua sobre os di-versos tipos de rocha e que dá origem ao modela-do topográfico terrestre. As rochas mais resisten-tes à erosão tendem a constituir os relevos mais altos, contrariamente às rochas mais brandas, que sendo mais facilmente erodidas (desgasta-das), correspondem às zonas mais baixas.

Estratificação – estrutura sedimentar produzida pela deposição de sedimentos em camadas (es-tratos), lâminas, lentes e outras unidades essen-cialmente tabulares.

Estratificação oblíqua (ou entrecruzada) - estru-tura sedimentar em que as camadas ou lâminas têm inclinações que fazem ângulos entre si, sem ter havido nenhum episódio de discordância. As diferentes inclinações dos planos sedimentares devem-se essencialmente às variações nas dire-ções das correntes fluviais, marinhas ou de vento. Este tipo de sedimentação pode ocorrer nos ca-nais fluviais, nas frentes dos deltas ou em dunas e onde os sedimentos mais comuns são as areias.

Estrato (geológico) (estratigrafia) - camada de rocha ou sedimento com 1cm ou mais de espessu-ra, que se distingue de outros situados imediata-mente acima ou baixo por mudanças na litologia ou por quebra física de continuidade (Sinónimo: camada, leito)

Fácies granulítica - é um grau de metamorfismo caracterizado por alta pressão (2-13Kb) e tempera-tura (superiores a 700°C) a profundidades acima de 9Km. Esta fácies dá origem a uma associação de minerais específicos cujas rochas são designa-das por granulitos.

Falha - estrutura geológica representada por uma superfície de rotura (fratura) com evidência de movimento relativo de ambos os blocos e que resulta de uma resposta frágil das rochas a um determinado campo de tensões.

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Feldspatos - grupo de minerais da classe dos sili-catos (tectossilicatos), contendo potássio (K), só-dio (Na) ou cálcio (Ca). Incluem genericamente os feldspatos potássicos (corresponde ao termo 6 da escala de dureza de Mohs) e as plagioclases (fels-patos só com Na e/ou Ca).

Fóssil - resto ou vestígio de animal ou planta que existiram em épocas anteriores à atual e que se encontram preservados em rochas, gelo ou âm-bar. Prestam-se ao estudo da vida no passado, da paleogeografia e do paleoclima, sendo utilizados ainda na datação e correlação das camadas que os contêm.

Fossilização - conjunto de processos que dão ori-gem aos fósseis. Estes fenómenos ocorrem duran-te a formação das rochas sedimentares e podem durar milhões de anos. São responsáveis pela pre-servação de organismos, dos seus restos ou das marcas deixadas pela sua atividade (icnofósseis). Na fossilização os compostos orgânicos que consti-tuem o organismo morto são substituídos por ou-tros mais estáveis nas novas condições. Estes po-dem ser calcite, sílica, pirite, carbono, entre outros.

Fronteira K/T - fronteira entre os períodos Cre-tácico e Paleogénico e que marca a extinção em massa de espécies ocorrida há 66 milhões de anos.

Geodiversidade (ou diversidade geológica) - consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e ou-tros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.

Geoforma - afloramento rochoso que constitui um local com interesse geomorfológico.

Geohistória (geologia histórica) - ramo da Geo-logia que se preocupa com a evolução da Terra e suas formas de vida desde sua origem até os dias atuais. O seu estudo inclui investigações de Estra-tigrafia, Paleontologia e Geocronologia, que en-volve os estudos de paleoambientes, de períodos glaciais e dos movimentos das placas tectónicas.

Geomonumento - o mesmo que geossítio.

Georrecursos (ou recursos geológicos) - são todos os bens de natureza geológica, renováveis ou não re-nováveis, existentes na crusta terrestre, passíveis de serem utilizados pelo Homem. No contexto utilizado no documento é sinónimo de património geológico.

Geossítio - ocorrência geológica bem delimitada geograficamente, que possui inegável valor cien-tífico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro e cuja conservação deve ser assegurada.

Gnaisse - rocha metamórfica de granularidade média a grosseira, com estrutura bandada, ge-ralmente com alternâncias de leitos félsicos e máficos. Deriva de sedimentos (paragnaisse) ou de rochas ígneas (ortognaisse) por ação de meta-morfismo regional ou orogénico.

Granito - rocha magmática plutónica, fanerítica (cristais visíveis à vista desarmada), composta essencialmente por quartzo e feldspatos alcali-nos, aos quais se associam, ou não plagióclases; contêm ainda frequentemente as micas (biotite e moscovite). Como principais minerais acessó-rios, destacam-se a apatite, o zircão, a magnetite e a ilmenite. As rochas granitóides (granitos e ro-chas afins) são as principais representantes das rochas plutónicas em domínio continental.

Graben - depressão ou fossa tectónica limitada por fa-lhas normais.

Granada - grupo de minerais constituídos por si-licatos alumínicos, férricos e crómicos que crista-lizam no sistema cúbico.

Holoceno - Período mais recente da Era Quater-nária (últimos 11.000 anos da história da Terra).

Horneblenda - mineral do grupo das anfíbolas, aluminoso e cálcico, que cristaliza no sistema monoclínico. Ocorre principalmente em rochas ígneas e metamórficas.

Horst - é um a palavra de origem alemã que significa elevação tectónica de bloco de terreno limitado por falhas normais.

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Icnofóssil - fóssil que consiste de vestígios de ati-vidade vital de organismos do passado, tais como pegadas, pistas de deslocação, marcas de denta-das, excrementos, ovos, túneis e galerias de habi-tação, etc.

Intrusão - processo de instalação/injeção de um magma numa rocha pré-existente.

Isótopo - são isótopos de um mesmo elemento químico, os átomos que têm o mesmo número atómico, mas o número de massa diferente; isto é, nos núcleos dos isótopos, o número de protões é o mesmo mas o número de neutrões é diferente.

Istmo - Faixa de terra firme, relativamente estrei-ta, que une porções do continente, e que se en-contra cercada de água pelos dois lados. Ver tam-bém península.

Jurássico - segundo Período da Era Mesozoica.

Lapiás - forma de relevo típica das regiões cársi-cas. As rochas carbonatadas adquirem um aspeto ruiniforme e apresentam-se com caneluras e sul-cos que podem atingir alguns metros de profun-didade. As fraturas existentes vão sendo abertas por dissolução química da rocha, o que vai dar origem a condutas de escoamento da água, quer vertical quer horizontalmente.

Litologia - descrição das características macros-cópicas de uma rocha.

Litótipos - conjuntos ou tipos litológicos caracte-rizados por determinadas litologias.

Local de interesse geológico - o mesmo que ge-ossítio.

Maciço Ibérico (ou Maciço Hespérico) - unidade morfoestrutural da Ibéria que representa o seg-mento mais ocidental da cordilheira Varisca eu-ropeia.

Máfico - termo usado para descrever minerais es-curos, ricos em ferro e magnésio, como as anfíbo-las, a biotite e os opacos.

Magma - material silicatado em fusão a partir do qual, por consolidação se formam, as rochas ígne-as ou magmáticas.

Mesozoico - Era do tempo geológico que sucede ao Paleozoico e antecede o Cenozoico. Compreen-de os Períodos Cretácico, Jurássico e Triásico.

Metamorfismo - Conjunto de processos que ocor-rem no interior da crusta terrestre, que provocam alterações químicas e/ou físicas das rochas (tex-tura, estrutura e composição mineralógica), en-volvendo sempre o fenómeno de recristalização. Os fenómenos de metamorfismo ocorrem princi-palmente no estado sólido das rochas.

Meteorização - processo de modificação das rochas provocada pelos agentes da atmosfera, hidrosfera, biosfera e ação antrópica. A meteo-rização manifesta-se pela desagregação natural (meteorização física) e/ou decomposição (meteo-rização química) das rochas, levadas a cabo pelos agentes externos (físicos, químicos e biológicos), convertendo-se em outros produtos naturais em equilíbrio com as condições do meio.

Mica - grupo de minerais da classe dos silicatos (filossiliocatos).

Micaxisto - rocha metamórfica cristalina (xisto), constituída essencialmente por quartzo e mica, cuja foliação (xistosidade) se encontra materia-lizada pelo alinhamento paralelo dos cristais de mica.

Microclina - mineral de silicato de alumínio do grupo dos feldspatos, do sistema triclínico. Ocorre principalmente em rochas magmáticas e metamórficas; pode ainda ocorrer em rochas se-dimentares detríticas que resultaram da erosão das rochas anteriores, sob a forma de conglome-rados, arenitos e grauvaques.

Migmatito - rocha metamórfica que resulta de fusão parcial da rocha original (protólito), em condições de metamorfismo de alta pressão. Parte da rocha funde, a de composição granítica (neossoma), permanecendo sem fusão a compo-nente mais máfica (paleossoma). É uma rocha

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metamórfica silicatada, compósita e heterogé-nea a uma escala meso a megascópica. Tipica-mente apresenta porções escuras que exibem características de rochas metamórficas e porções claras com aparência ígnea.

Mineral - material sólido, natural e inorgânico, com estrutura interna cristalina e uma composi-ção química bem definida.

Monazite - mineral fosfatado de terras raras (lan-tanídeos), que cristaliza no sistema monoclínico, com composição (Ce,La,Y,Th) PO4. É um mineral acessório em granitos e gnaisses, bem como em rochas sedimentares, nomeadamente em con-glomerados e arenitos.

Monoclinal - sequência de rochas sedimenta-res estratificadas e pouco inclinadas, sendo que todos os estratos têm a mesma inclinação. Cor-respondem normalmente a flancos de dobra bas-tante longos ou estão associadas a movimentos de falhas.

Moscovite - mineral aluminossilicato de potás-sio, do grupo das micas, também conhecido como mica branca.

Nautilus - é um molusco cefalópode marinho pertencente à subclasse dos Nautiloides, que possuem conchas calcárias enroladas em espiral ou retilíneas, divididas em câmaras por tabiques. Os tabiques encontram-se ligados por um sifão. Estes animais foram muito abundantes no Pa-leozoico, tendo surgido no Câmbrico. O Nautilus é um género de Nautilóide que ainda existe na atualidade, habitando a zona sudoeste do Ocea-no Pacífico.

Neolítico - idade da pedra polida. Constitui o es-paço de tempo entre aproximadamente o déci-mo milênio a.C., com o início da sedentarização e surgimento da agricultura, ao terceiro milênio a.C.(3000 a.C.), dando lugar à Idade dos Metais.

Neoproterozoico - Consiste numa Era do éon Proterozoico, na escala de tempo geológico, que está compreendida entre 1 bilhão e 541 milhões de anos atrás, aproximadamente. Sucede a era Mesoproterozoica de seu éon e precede a era Pa-leozoica do éon Fanerozoico.

Orla Meso-Cenozóica Ocidental - unidade mor-foestrutural da Ibéria que se encontra a bordear a oeste o Maciço Ibérico. É constituída, essencial-mente, por sedimentos depositados na Bacia Lu-sitânica, posteriormente afetados por atividade tectónica.

Orogenia - processo geológico do qual resulta a formação das cadeias de montanhas. Está rela-cionado com a Teoria da Tectónica de Placas, re-lativamente à convergência de placas crustais. O episódio orogénico pode durar dezenas a cente-nas de milhões de anos e dá origem a estruturas, tais como, dobras, fraturas, carreamentos, dis-cordâncias, ocorrendo também metamorfismo e plutonismo.

Orogenia Pré-câmbrica - processo geológico do qual resultou a formação de cadeias de monta-nhas durante o Pré-câmbrico.

Orogenia Paleozoica - processo geológico do qual resultou a formação de cadeias de monta-nhas durante o Paleozoico.

Orto (Geologia) - prefixo que indica que a rocha metamórfica foi originada a partir de uma rocha de natureza magmática.

Ortognaisse - ver gnaisse.

Paleolítico - idade da pedra lascada. Refere-se ao período da pré-história que aconteceu cerca de 2,5 milhões a.C., quando os antepassados do homem começaram a produzir os primeiros arte-factos em pedra lascada, destacando-se de todos os outros animais, até cerca de 10000 a.C., quan-do houve a chamada Revolução Neolítica, em que a agricultura passou a ser cultivada, tornando o homem não mais dependente apenas da coleta e caça.

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Paleozoico - Era do tempo geológico compreendi-da entre o final do Pré-câmbrico e o início da Era Mesozoica.

Pangea - supercontinente que terá existido no Perío-do Pérmico, a partir do qual, após um complexo pro-cesso de rifting, se formaram os continentes atuais.

Para (Geologia) - prefixo que indica que a rocha metamórfica foi originada a partir de uma rocha de natureza sedimentar.

Paragnaisse - ver gnaisse.

Património geológico - é definido pelo conjun-to de geossítios inventariados e caracterizados numa dada área ou região.

Península - massa continental que se encontra rodeada quase que completamente por água e ligada ao continente por uma faixa estreita de terra. Ver também istmo.

Piroclastos - fragmentos de material magmático que resultaram de erupções vulcânicas; podem ter várias dimensões, variando desde a cinza vul-cânica às bombas ou blocos.

Piroxena - mineral silicatado ferromagnesiano, anidro, do sistema monoclínico, triclínico ou or-torrômbico. Ocorrem em múltiplas rochas ígneas e metamórficas e como produtos de alteração em rochas sedimentares.

Plagioclase - mineral silicatado de alumínio, só-dio e cálcio que cristaliza no sistema triclínico, pertencente ao grupo dos feldspatos e entra na composição de várias rochas. È uma importante ferramenta de diagnóstico em petrologia para a identificação da composição, génese e evolução de rochas ígneas.

Pleistocénico (ou Pleistoceno) - Época do Quater-nário na qual se encontram os primeiros sinais da existência do homem e onde começa, portan-to, a pré-história.

Pliensbaquiano - terceiro Andar do Jurássico in-ferior.

Pré-câmbrico - é o grande período de tempo na história da Terra antes do atual Éon Fanerozóico. Corresponde um conjunto de modificações em que o Planeta Terra passa na qual proporcionou diversas características da Terra, como a forma-ção dos oceanos, da lua, de muitos minerais, de sua oxigenação, da formação de algumas vidas multicelulares e das placas tectônicas.

Quartzo - Mineral da classe dos silicatos (tectos-silicatos) constituído por óxido de silício (SiO2). Corresponde ao termo 7 da escala de dureza de Mohs. É o mineral mais abundante e disperso na superfície terrestre.

Quartzito - rocha metamórfica granoblástica com mais de 75% de quartzo, cujo protólito é um arenito quartzoso ou, menos comum, um tufo ou riólito silicioso.

Quaternário - Período mais recente da Era Ceno-zoica e que se estende desde aproximadamente 1,75 milhões de anos até os dias atuais. É subdi-vidido em Pleistocénico e Holocénico, esta épo-ca tendo seu início há aproximadamente 11000 anos. Uma das características mais marcantes é a ocorrência de sucessivos períodos de glaciação.

Rift (zona) - local onde ocorre extensão crustal, simi-lar à que existe nas cristas médio-oceânicas.

Rocha - massa de matéria mineral (um mineral ou, mais frequentemente, uma associação natu-ral de minerais), consolidada ou não.

Rocha ígnea ou magmática - rocha que cristali-zou a partir de um magma.

Rocha metamórfica - rocha que sofreu meta-morfismo sob ação de temperatura e/ou pressão e que foi reorganizada, textural, estrutural e/ou mineralogicamente face a essas novas condições.

Rocha sedimentar - rocha constituída pela acu-mulação de sedimentos detríticos (clastos – frag-mentos de dimensões variadas provenientes da alteração de outras rochas), por minerais quími-cos (resultantes da precipitação de substâncias minerais dissolvidas na água) e/ ou por sedimen-

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tos biogénicos (restos de seres vivos, como con-chas, ossos, fragmentos de plantas, pólenes, etc.).

Sedimentação - processo de deposição de sedi-mentos que ocorre quando o agente transporta-dor perde energia.

Sinclinal - Dobra que apresenta a convexidade para baixo e em que se observam as rochas mais recentes no seu núcleo.

Sílex - rocha constituída principalmente por quartzo micro ou criptocristalino, contendo raras impurezas, como argila, calcite ou hematite, po-rém nunca superam os 10%.

Superfície (ou plataforma) de abrasão marinha - forma de relevo litoral aplanada e irregular que foi essencialmente originada por ação da erosão marinha.

Tempo geológico - período de tempo que se es-tende desde a formação da Terra até ao presente.

Termometamorfismo - tipo de metamorfismo onde o fator com maior importância é a tempe-ratura.

Tectonometamorfismo - relativo ao metamorfis-mo orogénico.

Textura - refere-se ao tamanho, forma, arranjo espacial e modo de contacto entre os minerais ou elementos constituintes de uma rocha.

Toarciano - Andar mais recente do Jurássico in-ferior.

Tômbolo - barra de areia que une uma ilha ao continente, ou que conecta duas ou mais ilhas.

Tufo (vulcânico) - rocha sedimentar de origem vulcânica constituída maioritariamente por cin-zas, podendo conter blocos ou outros fragmentos piroclásticos.

Valor geoturístico - que reúne um conjunto de aspetos geológicos e geomorfológicos com po-tencialidade de serem usufruídos e interpreta-dos por estudantes e turistas, tendo a finalidade de promover a conservação dos geossíticos e o desenvolvimento sustentável da região.

Xisto - rocha metamórfica cristalina com compo-sições variadas, que se caracteriza essencialmen-te pela xistosidade. Pode ter diversos protólitos, dando assim origem a xistos com características mineralógicas diferentes, havendo predominân-cia dos filossilicatos (micas). Resultam de meta-morfismo em rochas que podem variar desde ba-saltos a rochas plutónicas ou até pelitos. A forte xistosidade, que o caracteriza, faz com se desa-gregue muito facilmente segundo planos parale-los. Isto deve-se ao facto dos minerais lamelares (filossilicatos) serem bem desenvolvidos e orien-tados paralelamente. Dependendo do protólito, o xisto pode ser micáceo, verde, azul ou mosquea-do, entre outros.

Xisto anfibólico (ou anfibolítico) - xisto essen-cialmente constituído por anfíbola e quartzo. Ver também xisto.

Xistosidade - elemento estrutural de uma rocha, evidenciado pela existência de planos paralelos (foliação) resultantes da recristalização dos mi-nerais que a constituem. Como resultado a rocha divide-se em finas lâminas paralelas.

Zircão - mineral da classe dos silicatos (nesossili-catos), que cristaliza no sistema tetragonal, cons-tituído por óxido de zircónio e de silício (ZrSiO4). É um mineral acessório frequente nas rochas ígne-as ocorrendo, por vezes, nas rochas sedimentares detríticas devido à sua resistência. Este mineral contém elementos radioativos na sua estrutura que permitem calcular a sua idade absoluta de cristalização por decaimento radioativo.

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ANEXOéon era

cenozoico

mesozoico

paleozoico

fane

rozo

ico

prot

eroz

oico

pré-

câm

bric

o

neoproterozoico

mesoproterozoico

paleoproterozoico

arcaico

pérmico

devónico

ordovícico

carbónico

silúrico

câmbrico

quaternário

holocénico

pleistocénico

neogénico

paleogénico

cretácico

triásico

jurássico

período época andar milhões de anos

0,0117

2,58

23

66

145

152

157

164

166

168

170

174

183

191

199

201

252

299

359

419

443

485

541

1000

1600

2500

superior

titoniano

aaleniano

caloviano

sinemuriano

kimeridgiano

toarciano

batoniano

hetangiano

oxfordiano

pliensbaquiano

bajocianomédio

inferior

Fig. A - Tabela de tempo geológico.

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Associação Portuguesa de Geólogos

A Associação Portuguesa de Geólogos foi fundada em 1976. É uma associação sócio-profissional, sem fins lucrativos, que congrega profissionais da Geo-logia que se dedicam a domínios diversificados no âmbito das Ciências da Terra.

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47Peniche, 03 e 04 junho 2016Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geo-ciências” (3ª Edição)

Associação Portuguesa de Geólogos

Organização Apoio